NOVA YORK - Ninguém contesta o fato de que o diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, deixou um luxuoso hotel de Manhattan apressado no sábado. O que resta saber é se ele fugiu do local do crime, como alega a acusação, ou se apenas saiu para almoçar, como sustenta sua defesa.
Acusado de tentativa de estupro e agressão sexual contra uma funcionária do hotel, o destino de Strauss-Kahn depende do que poderão provar as partes sobre o que teria acontecido no período entre o meio-dia e as 16h40 do sábado, quando ele foi detido a bordo de um avião rumo a Paris. Testes de DNA servirão como provas do caso.
Na audiência de segunda-feira no Tribunal Penal de Nova York, um dos advogados de Strauss-Kahn, Benjamin Brafman, mostrou parte da sua estratégia quando ridicularizou as "incoerências" da versão apresentada pela acusação sobre o que teria ocorrido.
De acordo com a polícia e os procuradores, Strauss-Kahn estava hospedado em uma suíte de 3.000 dólares a diária no 28º andar do hotel Sofitel, localizado nos arredores da Times Square, quando uma camareira entrou e foi atacada sexualmente por um homem nu.
A princípio, a polícia anunciou que o caso ocorreu por volta das 13h30, mas as autoridades revisaram o horário e estabeleceram o ocorrido por volta do meio-dia.
Logo em seguida, afirmam os procuradores, Strauss-Kahn fugiu para o aeroporto JFK e embarcou em um avião da Air France com destino a Paris. Apenas 10 minutos antes da decolagem, o que o teria colocado fora do alcance da justiça americana, a polícia entrou no avião e o deteve.
O procurador John McConnell afirmou na segunda-feira na sala de audiência do tribunal que as imagens do circuito interno do hotel mostram um Strauss-Kahn "bastante apressado".
Diante do exposto, a juíza Melissa Jackson rejeitou o pedido do pagamento de fiança e manteve Strauss-Kahn preso, alegando possibilidade de fuga do réu.
Para Benjamim Brafman, no entanto, as coisas são diferentes.
"A razão pela qual ele estava com pressa é porque ele tinha um almoço marcado", justificou o famoso advogado, que já defendeu estrelas da música como Jay-Z e Michael Jackson.
Após garantir que poderia apresentar ao tribunal a pessoa com quem Strauss-Kahn almoçou no sábado, Brafman tirou outra carta da manga: disse que o voo da Air France havia sido reservado há muito tempo e que ele nada teria a ver com uma tentativa de fuga de última hora.
"A teoria de que ele fugiu do hotel e correu até o aeroporto é simplesmente falsa", declarou.
Se Strauss-Kahn não demonstrou sinais de pânico ou de tentativa de fuga, a hipótese oficial é "incoerente com a lógica e um mau juízo", acrescentou.
Mas caso Brafman apresente um relato convincente sobre os atos de seu cliente nos momentos-chave do sábado, isso não significa que fique esclarecido o que de fato ocorreu no quarto do hotel.
A promotoria se baseia no testemunho da mulher agredida e sustenta a versão em análises forenses.
"A vítima apresentou uma história bastante detalhada", disse McConnell.
Os resultados dos exames realizados pela mulher "comprovam seu testemunho" e uma perícia feita na suíte mostra uma "evidência forense que sustenta a versão da vítima".
Exames de DNA e uma outra evidência física poderiam condenar Strauss-Kahn, mas os advogados de defesa não mostram em qualquer momento sinais de preocupação por conta destas questões.
Strauss-Kahn se submeteu de forma voluntária na noite de domingo a um exame antes mesmo que a justiça o obrigasse a realizá-lo. A defesa alegou que não há nada a temer e tentou com a atitude do acusado ganhar crédito para a audiência de segunda-feira.
"Acreditamos que este é um caso muito fácil de defender", considerou Brafman aos jornalistas na saída do Tribunal Penal, no sul de Manhattan.