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AF 447: famílias permanecem céticas após novas descobertas

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Recife - A descoberta de novos destroços do Airbus A330 da Air France no Oceano Atlântico, divulgada neste fim de semana, não foi suficiente para mudar o sentimento de ceticismo entre as famílias das vítimas em relação à investigação das causas do acidente que deixou 228 mortos em maio de 2009. "A Airbus e a Air France têm participação do governo francês. Logo, não podemos deixar (a investigação) apenas nas mãos deles", afirma Nelson Faria Marinho, dirigente da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447.

Maarten Van Sluys, também dirigente da associação, pretende viajar para a França e participar, agora, do planejamento da operação de resgate dos destroços e corpos encontrados dentro da aeronave. A participação dos familiares, conta Maarten, foi reivindicada ao governo francês, quando o ministro dos Transportes da França, Thierry Mariani, anunciou a quarta operação de buscas. "Ele concordou que nós poderíamos participar", lembra Maarten.

Outro aspecto que o dirigente da associação de familiares considera importante é saber a localização exata dos destroços encontrados. "Com esse dado, poderemos questionar a demora em se anunciar o achado, porque o submarino nuclear francês esteve naquele região há um ano e oito meses", questiona Maarten, irmão de Adriana Van Sluys, jornalista da Petrobras que morreu em viagem a trabalho.

Outra possibilidade anunciada por Maarten a de o avião ter caído em mar territorial brasileiro. Essa situação reforçaria o pedido de investigação já em andamento no Ministério Público Federal em Pernambuco, pelo procurador Anderson Vagner Gois dos Santos. O desejo por investigações lideradas por brasileiros também é compartilhada por Nelson Faria Marinho. "O governo francês tem participação na Airbus e na Air France. Como posso acreditar que ele vai investigar a si próprio?", pergunta.

A estratégia de Nelson Marinho para incluir especialistas brasileiros na investigação das causas do voo 447 inclui solicitar audiência com a presidente da República, Dilma Rousseff (PT), para convencê-la da necessidade da participação do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Aeronáutica, nos trabalhos liderados pelo Escritório de Investigações e Análises da França (BEA).

Identificação de corpos

A notícia de que corpos foram encontrados entre os destroços trouxe a esperança de se colocar um fim no drama de muitas famílias das vítimas. "Para mim, o meu filho não morreu. Escapou, saiu nadando e, a qualquer momento, chegará aqui", afirma Nelson Faria Marinho, pai de Nelson Marinho. Ele conta que, sem poder realizar um funeral, nem mesmo a certeza de que é praticamente impossível se escapar de um acidente como aquele remove a ideia de que uma exceção pode ter ocorrido.

Segundo Marinho, há familiares que não pensam em ter os corpos de volta. O dirigente da associação afirma que muitos preferem a ideia de "deixar tudo com o mar", evitando relembrar o sofrimento da tragédia. "Nem esses conseguem ficar longe das notícias quando elas não terminaram completamente", conclui.

Van Sluys e Marinho acreditam que os familiares das vítimas que não foram resgatados devam ser chamados para coleta de material biológico que permita a identificação dos corpos. Dos 228 passageiros e tripulantes mortos no acidente, 50 foram retirados do mar nas buscas realizadas logo após o acidente. Entre os corpos resgatados, 20 eram brasileiros e 30 estrangeiros. O voo 447 levava cidadãos de 32 países.

Se os procedimentos realizados em 2009 forem repetidos, os trabalhos de identificação dos corpos deverão ficar a cargo do Instituto de Medicina Legal (IML) do Recife (PE). No entanto, a instituição acabou de ser o centro de uma crise, com publicação de fotos e de denúncias sobre a falta de condições físicas para a realização de necropsias, interdição do Conselho Regional de Medicina (Cremepe) no Estado e greve dos médicos legistas. O movimento começou a voltar ao normal na última quarta-feira, quando o presidente da Associação Pernambucana dos Médicos Legistas (Apemol), Carlos Medeiros, decidiu suspender a operação padrão.