MANAMA - Um líder da oposição xiita do Bahrein anunciou neste domingo que o diálogo político com o poder só terá início depois que o atual governo - acusado de ordenar a violenta repressão aos protestos populares - renunciar.
"Um governo que não pôde proteger o próprio povo deve renunciar, e os responsáveis pela matança devem ser julgados", declarou à AFP Abdel Jalil Ibrahim, chefe do bloco parlamentar Wefaq, principal movimento da oposição xiita.
"A oposição não recusa o diálogo" proposto pelo príncipe herdeiro Salman Ben Hamad Al Khalifa, destacou, "mas exige uma plataforma que favoreça o diálogo".
O príncipe herdeiro do Bahrein ofereceu começar um diálogo com a oposição, depois que a polícia matou seis manifestantes esta semana.
Além disso, Salman ordenou que o exército se retirasse da capital Manama, e que os batalhões de choque da polícia não combatessem os manifestantes, atendendo a duas reivindicações da oposição.
Em resposta aos gestos conciliatórios do governo, a União Geral dos sindicatos do Bahrein anunciou a suspensão da convocação para uma greve geral, emitima na véspera, estimando que suas exigências - a retirada do exército de Manama e o respeito ao direito de manifestação - foram cumpridas.
"Após os últimos acontecimentos, e em consequência da retirada do exército e do respeito às manifestações paíficas, a União decidiu suspender sua ordem de greve geral e convocar o retorno dos trabalhadores a partir de segunda-feira", indicou a central sindical em um comunicado.
No sábado, a União Geral havia convocado os trabalhadores do país a aderir a uma greve geral a partir deste domingo.
Neste domingo, a vizinha Arábia Saudita fez um apelo à oposição do Bahrein, pedindo que aceitem dialogar com o governo e rejeitando a ideia de "qualquer ingerência externa nos assuntos internos" do país, informou a agência de notícias oficial Spa.
"A Arábia Saudita acompanha com interesse o desenvolvimento da situação no reino irmão do Bahrein. Neste momento, esperamos que a calma e a estabilidade retornem ao país, e pedimos aos irmãos barenitas que ouçam a razão e aceitem as propostas do governo", declarou um porta-voz oficial saudita, citado pela Spa.
O governo saudita destaca ainda "sua total rejeição a qualquer ingerência estrangeira nos assuntos internos do Bahrein", segundo a agência, que lembra "o apoio, com todos os meios de que dispõe, da Arábia Saudita ao governo e ao povo do Bahrein".
A Arábia Saudita é parceira do Bahrein o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), do qual também fazem parte os Emirados Árabes Unidos, Omã, Qatar e Kuwait.
O CCG reafirmou seu total apoio ao Bahrein em uma reunião na última quinta-feira em Manama, da qual participaram os ministros das Relações Exteriores de seus países membros.
Em Washington, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse neste domingo que o Bahrein deveria adotar reformas políticas imediatamente, e que a violência das forças de segurança contra os manifestantes é "inaceitável".
"O Bahrein havia iniciado algumas reformas, e queremos que volte a elas o mais rápido possível", indicou Hillary ao programa "This Week", da rede ABC.
"Não queremos ver nenhuma violência. É absolutamente inaceitável. Queremos realmente ver que os direitos humanos da população estão sendo protegidos, incluindo o direito de reunião e expressão, e queremos ver reformas", acrescentou.
A repressão contra os manifestantes provocou seis mortes e deixou dezenas de feridos neste pequeno reino do Golfo Pérsico, de maioria xiita, governado por uma dinastia saudita.