A câmara baixa do parlamento britânico aprovou na tarde desta quinta-feira o polêmico projeto de lei que pode triplicar o preço das matrículas universitárias na Inglaterra, e que provocou tensões na coalizão integrada por conservadores e liberal-democratas liderada pelo premier David Cameron.
Após cinco horas de intenso debate, o projeto de lei foi aprovado por 323 votos a favor e 302 contra, uma diferença de apenas 21 votos que denuncia a divisão, uma vez que a coalizão governista dispõe de ampla maioria na Câmara dos Comuns.
Apesar de algumas concessões de última hora, a maior parte dos 57 deputados do Partido Liberal Democrata, que integra o governo junto com o Partido Conservador, votou como esperado contra a alta das matrículas, uma das principais promessas de campanha de Nick Clegg, líder da formação.
O projeto de lei, que integra o pacote de austeridade anunciado pelo governo para reduzir o déficit público, aumentará a partir de 2012 o preço das matrículas universitárias, das atuais 3.290 libras (por ano) para 6.000 e até 9.000 libras (14.200 dólares) "em circunstâncias excepcionais".
A alta também afetará cidadãos de outros países da União Europeia (UE) que estudam na Grã-Bretanha, mas exclui estrangeiros de fora do bloco, que já pagam matrículas muito mais altas e fixadas livremente por cada universidade.
Estudantes e policiais entraram em conflito no centro de Londres durante uma manifestação contra o projeto.
Três agentes e seis manifestantes ficaram feridos, e sete pessoas foram detidas, anunciou a polícia em um comunicado.
Vários jovens foram vistos com o rosto ensanguentado, depois que os policiais intervieram para impedir que os estudantes cercassem o parlamento.
"Eu estava na linha de frente, e andei até o cordão policial com as mãos nas costas para explicar que seu cerco era imoral e inumano", contou à AFP Julyan Phillips, de 23 anos, aluno da Goldsmiths College de Londres.
"Havia uns sujeitos que nos empurravam com varas metálicas pelo lado, mas um policial preferiu me acertar na cabeça".
Alguns manifestantes derrubaram as cercas metálicas que impediam o acesso à Parliament Square, que fica em frente ao prédio do Parlamento, enquanto outros atiravam bombas de fumaça contra a polícia, que enfrentou dificuldades para controlar a situação.
No início do protesto, um grupo de manifestantes conseguiu entrar na área comum da Câmara dos Comuns, perto do salão onde acontecia o intenso debate sobre o projeto de lei.
Andrea Baptiste, de 18 anos, uma das estudantes que protestava na Parliament Square, chamou Clegg de mentiroso por apoiar o aumento do preço das matrículas universitárias, e disse que o projeto "cria graves divisões sociais".