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Lula lamenta morte de Zapata mas ignora carta de dissidentes

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Agência AFP

HAVANA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira, em Havana, que lamenta "profundamente" a morte do preso político cubano Orlando Zapata, falecido na véspera após dois meses e meio de greve de fome.

"Lamento profundamente que uma pessoa tenha morrido por greve de fome", revelou Lula à AFP quando seguia do hotel para o Palácio da Revolução, para se reunir com o presidente cubano, Raúl Castro.

Lula garantiu não ter recebido "qualquer carta" pedindo sua intervenção na libertação de presos políticos cubanos, e lamentou a versão de que obteve uma "carta impressa" neste sentido.

"Se as pessoas se dirigissem à embaixada brasileira (...), se tentassem entrar em contato comigo, jamais deixaria de atendê-las. O que não posso é chegar a um país e me reunir com um grupo de pessoas que disseram que falaram comigo quando não falaram", destacou o presidente brasileiro.

"A solidariedade faz parte da minha vida e nunca deixo de tratar destes assuntos", garantiu Lula.

Ao menos 50 presos políticos pediram ao presidente brasileiro, em carta aberta, que intercedesse pela libertação dos dissidentes cubanos e se envolvesse no caso de Zapata, um pedreiro negro de 42 anos detido em 2003 e condenado a 32 anos de prisão por "desacato" ao governo e "desordem pública".

Na carta, os dissidentes presos também destacam que Lula "seria um magnífico interlocutor" para se obter do governo cubano "as reformas econômicas, políticas e sociais urgentemente requeridas" na Ilha.

Segundo Berta Soler, do grupo das Damas de Branco, Zapata "já está morto, mas ainda há muitos presos políticos doentes que deveriam estar em suas casas porque não fizeram nada". "Vamos ver se Lula se interessa por isto".

Zapata, considerado um prisioneiro de consciência pela Anistia Internacional, faleceu em um hospital de Havana na terça-feria após uma greve de fome iniciada em dezembro em protesto pelas péssimas condições carcerárias.

Em um ato celebrado no Porto de Mariel, Raúl Castro disse ao lado de Lula que a morte de Zapata "foi resultado dessa relação com os Estados Unidos".

O presidente cubano "lamentou" a morte de Zapata, mas garantiu que em Cuba "não existem torturados, não houve torturados, não houve execução". "Isso acontece na base (americana) de Guantánamo".

Após chegar na noite de terça-feira a Havana vindo do México, onde participou da Conferência do Grupo do Rio, Lula iniciou em Mariel sua intensa agenda em Cuba.

A modernização de Mariel, que custará 600 milhões de dólares no total, permitirá que embarcações muito grandes para o porto de Havana atraquem ali.

Lula se reuniu hoje, durante duas horas e meia, com Fidel Castro, e verificou que o líder cubano está "bem" e com ainda "mais disposição" em relação ao encontro precedente, em outubro de 2008.

"Minha reunião com ele (Fidel Castro) foi uma reunião de velhos amigos, de velhos companheiros. Ele é muito interessado nas coisas do Brasil. Tivemos uma ''pequena conversa'' de duas horas e meia".

"Trocamos muitas ideias, discutimos muitos assuntos, incluindo cana-de-açúcar, soja, leite, eletricidade, e pude constatar que ele está bem, com mais disposição que da outra vez. Estou muito feliz", destacou o presidente brasileiro.

Fidel, 83 anos, está afastado da vida pública desde 2006, devido a um grave problema de saúde.

Esta é a quarta viagem de Lula a Cuba desde que chegou à presidência, em janeiro de 2003.