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LA PAZ - A Bolívia criticou nesta terça-feira o governo peruano por ter acusado o presidente Evo Morales de estimular indiretamente os recentes protestos indígenas que deixaram dezenas de mortos. A troca de acusações entre La Paz e Lima ameaça novamente turvar as relações entre os dois vizinhos.
O vice-presidente boliviano, Álvaro García, disse que o governo peruano busca um pretexto contra seus problemas internos, que ficaram evidentes com os protestos em que grupos indígenas rejeitam uma nova lei de investimentos, que segundo eles ameaçaria seus territórios.
Há um mês os índios bloqueiam estradas na Amazônia peruana, e o presidente Alan García insinuou que os governos esquerdistas de Bolívia e Venezuela estariam por trás dos protestos, iniciados depois de um encontro indígena continental em Pumo, no sul do Peru.
Em carta a esse encontro, Morales propôs passar da "resistência" à "rebelião", e "da rebelião à revolução".
- A carta do presidente Evo é um programa de dignidade e de vida (...). Foi uma carta de convocação dos povos à sua dignidade, que reivindiquem a igualdade e a justiça - disse o vice-presidente boliviano.
- O que não aceitamos é que se converta um documento de vida, de dignidade e de convocação em um pretexto ou uma justificativa para a gestão de problemas internos de algum governo ou alguma sociedade - acrescentou.
O primeiro-ministro peruano, Yehude Simon, disse que Morales "não pode mandar uma carta e dizer que é preciso fazer a revolução, o sr. (Morales) sabe o que significa isso".
Desde sexta-feira passada, pelo menos 24 policiais e 9 indígenas morreram em confrontos na Amazônia peruana. Os índios dizem que houve mais de 30 mortos do seu lado.
Durante os distúrbios, a ministra do Interior, Mercedes Cabanillas, afirmou que o líder da rebelião indígena, Alberto Pizango, teria buscado asilo na Bolívia. Na terça-feira, no entanto, confirmou-se que a Nicarágua concedeu asilo político a Pizango.
As relações entre Peru e Bolívia atravessam um momento difícil, com constantes acusações de ingerência e atritos verbais entre seus presidentes.
No mês passado, Lima concedeu asilo e refúgio a três ex-ministros julgados na Bolívia por genocídio e crimes econômicos. Morales criticou duramente a medida.