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BRUXELAS - Logo depois de retomarem negociações após o desconforto decorrente da guerra na Geórgia, no ano passado, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e Moscou voltaram a se desentender.
Na quarta-feira, a Otan expulsou dois diplomatas russos de Bruxelas. A medida seria uma represália por um escândalo de espionagem envolvendo uma autoridade da Estônia.
O governo de Moscou negou qualquer envolvimento com espionagem. A Rússia classificou a expulsão dos diplomatas como uma provocação grosseira e lamenta que tenha ocorrido em um momento de reaproximação entre a Rússia e a Otan, depois do conflito do ano passado entre russos e a Geórgia.
No começo do ano, Herman Simm, um alto funcionário do governo da Estônia, foi condenado a 12 anos de prisão por ter supostamente repassado documentos secretos de segurança da Otan a agentes da inteligência russa.
O tribunal não divulgou qual país teria contratado os serviços de Simm, mas os investigadores afirmaram que ele teria entregue 3 mil documentos aos russos e recebido cerca de US$ 110 mil pelas informações. O governo de Moscou nega qualquer envolvimento.
Em nota oficial, o Ministério das Relações Exteriores russo rechaçou a medida, chamando-a de provocação grosseira foi feita em relação a dois funcionários da missão permanente da Rússia na Otan com um pretexto sem nenhuma explicação clara . Além disso, ressaltou que a ação revoltante contradiz fundamentalmente as declarações de lideranças da Otan sobre sua prontidão em normalizar as relações com
a Rússia .
Na quarta-feira, a Rússia e a Otan haviam retomado os contatos formais, após quase oito meses de interrupção devido ao conflito da Geórgia. Mas menos de 24 horas depois de retomarem, a aliança ocidental anunciou a expulsão dos diplomatas russos.
A Otan e a Rússia ainda discordam sobre a questão da Geórgia. Recentemente, o presidente russo, Dmitri Medvedev, criticou os exercícios militares que serão realizados pela Otan na Geórgia em breve. O chefe de Estado russo disse que esse tipo de exercício não deveria acontecer em um país que acabou de passar por uma guerra.
Poucas horas depois da declaração do líder russo, a Otan acusou a Rússia de violar acordos de paz que puseram fim à guerra com a Geórgia no ano passado.
Os 28 embaixadores de países da Otan rebateram as declarações de Medvedev e quiseram deixar claro ao representante russo, Dmitri Rogozin, que estes exercícios não são uma provocação.
A questão foi um dos principais pontos de desacordo durante uma reunião que se durou três horas e na qual se trataram vários temas da Cúpula da Otan em Estrasburgo, na França, no mês passado.
Moscou
Embaixador russo na Otan, Rogozin negou ontem qualquer envolvimento com tarefas de espionagem dos dois diplomatas expulsos pela aliança, e advertiu que este tipo de provocação não ajuda a normalizar as relações entre as duas partes.
O representante russo destacou ainda que este tipo de provocação não pode ficar sem resposta , mas precisou que as autoridades russas não perderão os nervos perante a posição da Otan.
Em entrevista coletiva à imprensa, o embaixador disse que o secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop Scheffer, comunicou-lhe na quarta-feira a retirada do credenciamento dos dois diplomatas, após a reunião do Conselho Otan-Rússia que representou a retomada formal das relações bilaterais, interrompidas pelo conflito na Geórgia.
Apesar do cenário conflituoso, autoridades da Otan disseram à BBC que uma reunião de alto-escalão entre russos e a aliança militar marcada para o próximo mês deverá ser mantida.