Jornal do Brasil
RIO - Antecipando uma importante reunião, na noite deste sábado, do Gabinete de Segurança de Israel formado pelos principais ministros do governo para decidir se aceita a proposta egípcia de uma trégua unilateral em Gaza, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice também anunciou iniciativas em prol de uma resolução do conflito. Em seu último dia no cargo, Condoleezza assinou com a chanceler israelense, Tzipi Livni, um acordo para que os EUA ajudem Israel a impedir que o grupo radical islâmico Hamas se rearme durante cessar-fogo na região.
O memorando de entendimento, assinado em Washington, estabelece medidas de cooperação em inteligência e logística entre os países para prevenir o contrabando de armas para Gaza pela sua fronteira com o Egito.
Se o Gabinete de Segurança israelense aprovar a proposta, Israel não se veria obrigado a respeitar nenhuma das condições exigidas pelo Hamas para trégua, como o fim do bloqueio de Gaza.
Assim que a trégua entrar em vigor, Israel passará a observar a reação do movimento islamita, e retomará sua ofensiva se o lançamento de foguetes contra o sul de seu território recomeçar.
Segundo as fontes, a decisão de submeter a proposta à votação foi adotada depois que o governo de Israel chegou à conclusão de que cumpriu a maioria dos objetivos em Gaza.
O número de mortos palestinos desde o início da ofensiva, no dia 27 de dezembro, é de ao menos 1.160. Outros 5 mil estão feridos.
Tanques e aviões israelenses mataram ontem pelo menos 27 palestinos entre eles, 22 civis em dois ataques no norte de Gaza, informaram fontes médicas locais.
Nove vítimas morreram quando tanques israelenses abriram fogo contra um cortejo fúnebre no leste da Cidade de Gaza, e quatro pelo ataque de aviões em Jabalia, próximo à capital da faixa.
Além disso, foram localizados os corpos de 23 pessoas sob os escombros de uma casa bombardeada na quinta-feira, na Cidade de Gaza.
Médicos não conseguem
ter acesso às vítimas
A organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) informou ontem que não consegue chegar até os civis doentes e feridos em Gaza, por conta dos bombardeios israelenses, e que talvez tenha de se retirar da área caso a situação de insegurança piore.
Pedimos que Israel garanta o acesso (de funcionários da organização) e respeite as equipes e estruturas médicas, o que é basicamente a Convenção de Genebra disse o secretário-geral do MSF, Felipe Ribeiro, depois de uma entrevista coletiva no escritório do grupo em Paris.
De acordo com a Convenção de Genebra, equipes médicas e hospitais devem ser poupados e os feridos, recolhidos e atendidos.
Segundo a coordenadora médica Cecile Barbour, os bombardeios continuam sem parar, apesar da promessa de Israel de fazer uma pausa diária de três horas nas hostilidades.
Longe de estar melhorando, temos razões para acreditar que a situação esteja piorando indicou Christophe Fournier, presidente do conselho internacional do grupo. Os serviços de emergência e nossas equipes não conseguem ter acesso às vítimas.
Os médicos do MSF, que trabalhavam nos principais hospitais de Gaza, pararam há dois dias, depois que o hospital al-Quds foi atingido pelas forças israelenses.
Com os pacientes e profissionais palestinos presos em suas casas, o grupo informou que também teve de fechar quatro clínicas e agora administra apenas um centro pós-cirúrgico.
Apelo
O presidente da Síria, Bachar al-Assad, pediu ontem aos países árabes que têm relações diplomáticas com Israel que fechem as embaixadas e suspendam os contatos com o país.
As afirmações foram feitas na abertura da reunião da Liga Árabe, em Doha, no Catar, destinada a discutir o conflito na Faixa de Gaza. Atualmente, somente o Egito e a Jordânia assinaram um acordo de paz com Israel e têm embaixadas israelenses funcionando em suas capitais.
O presidente sírio também apelou para a reativação do boicote árabe a Israel e citou a sua própria decisão de suspender as negociações indiretas com o país, pouco depois do início da ofensiva israelense.
Depois do apelo do presidente sírio, a Mauritânia decidiu congelar as relações políticas e econômicas com Israel, em protesto contra a ofensiva em Gaza. O governo já havia anunciado a decisão de cha
Palestinos cada vez mais divididos sobre a guerra
Depois da união nos primeiros dias de guerra, começam as fissuras na Autoridade Palestina e as críticas à recusa do Hamas em comprometer-se a um cessar-fogo, enquanto em Gaza o número de mortos aumenta a cada hora. Vários integrantes do Fatah, o partido do presidente Mahmoud Abbas derrotado violentamente pelo Hamas em junho de 2007 e jornalistas ligados à Autoridade Palestina acusam o movimento islâmico de tentar tirar proveito político da guerra.
Para eles, o Hamas está fazendo com que a ofensiva aumente, dificultando a iniciativa egípcia de cessar-fogo, com o objetivo de se fixar na fronteira entre Gaza e o Egito, obtendo certa legitimidade para seu poder em Gaza, não reconhecido pela comunidade internacional.
O redator-chefe do jornal da Autoridade Palestina Al Hayat al Jadida, Hafez Barghuti, fez as primeiras acusações: Ao escutar as condições impostas por dirigentes do Hamas no exílio, até parece que são nossos tanques que estão fazendo incursões nas ruas de Tel Aviv, e não o contrário , escreveu.
Azzam al Ahmad, chefe do grupo parlamentar do Fatah, afirmou que havia chamado o número 2 político, Musa Abu Marzuk, para o convencer a aceitar a iniciativa egípcia.
Porém, ele a rechaçou. A julgar por sua posição intransigente, creio que o Hamas quer que sua autoridade seja reconhecida em Gaza, sem se importar com o número de pessoas que morrem a cada dia declarou à agência de notícias AFP, Al Ahmad.
O Hamas prometeu transformar Gaza em um cemitério para o Exército israelense, que já perdeu 10 soldados, contra mais de 1.160 palestinos mortos.
A cada dia, o Hamas perde mais sua credibilidade afirma o cronista político Samih Shabib, também ligado ao Fatah.
Apesar das críticas, a popularidade do Hamas na Cisjordânia e no mundo árabe aumenta desde o começo da ofensiva, informa Ghassan Al Jatib, diretor do Centro de Meios de Comunicação de Jerusalém:
As pessoas simpatizam com quem diz fazer resistência, como o Hamas, que ainda lança fog