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ATENAS - Dezenas de estudantes atiraram pedras e bombas incendiárias contra delegacias em vários subúrbios de Atenas na quinta-feira, no sexto dia de protestos contra o governo conservador grego.
Mas o centro da capital estava mais calmo do que nos dias anteriores, depois da greve geral de 24 horas da última quarta-feira, convocada por sindicatos contra reformas previdenciárias e privatizações.
Em Salônica (norte), cerca de 500 pessoas cercaram a delegacia central de polícia. Houve grandes manifestações também em Patras (oeste) e Ioannina (norte).
Em Atenas, os confrontos recomeçaram ao alvorecer, quando os estudantes que ocupam a universidade enfrentaram a polícia. Os distúrbios em seguida se espalharam para 15 delegacias em diversos bairros.
Alguns alunos levavam cartazes com a pergunta 'por quê?', exigindo uma explicação pela morte, no sábado, de um jovem de 15 anos baleado por um policial, o que desencadeou a atual onda de protestos --agravada pela crise econômica e por casos de corrupção no governo.
Há manifestações marcadas para esta quinta, sexta e segunda-feira em Atenas, e muitos gregos já se perguntam até quando o governo conseguirá sobreviver.
- O governo mostrou que não pode lidar com isso. Se a polícia começar a impor a lei, todos dirão que a junta militar está de volta - disse o eletricista Yannis Kalaitzakis.
Muitas pessoas estão irritadas com o fato de o policial de 37 anos, acusado da morte do adolescente, não ter expressado remorso aos investigadores na quarta-feira. Ele disse que deu tiros de alerta em autodefesa, que ricochetearam e mataram o jovem.
Epaminondas Korkoneas e seu parceiro, acusado de cúmplice, foram presos na quarta-feira para aguardar por julgamento. Geralmente os tribunais gregos levam meses para começar a julgar casos.
O primeiro-ministro Costas Karamanlis, que anunciou apoio financeiro para centenas de empreendimentos danificados nas manifestações, deve viajar para Bruxelas para um encontro da União Européia na quinta-feira, enquanto o governo grego tenta seguir trabalhando normalmente.
Karamanlis e o líder da oposição, George Papandreou, fizeram apelos pelo fim da violência, que abalou dez cidades gregas e provocou centenas de milhões de euros em danos a propriedades. Gregos também protestaram em Paris, Moscou, Berlim, Londres, Roma, Haia, Nova York, Itália e Chipre.
Embora o governo grego, que tem maioria de apenas um deputado no Parlamento, pareça ter conseguido controlar a crise mais imediata, sua aparente omissão diante dos distúrbios pode afetar ainda mais a sua popularidade, já bastante baixa. O Pasok (partido socialista, o maior da oposição) lidera as pesquisas de opinião e pediu antecipação das eleições.
- O cenário mais provável agora é que Karamanlis convoque eleições dentro de dois ou três meses - disse Georges Prevelakis, professor de Geopolítica da Universidade Sorbonne, em Paris.
Na última quarta-feira, a greve geral, com adesão de centenas de milhares de trabalhadores, afetou aeroportos, bancos, escolas e hospitais. Os sindicatos dizem que as privatizações, os aumentos de impostos e a reforma previdenciária pioraram as condições de vida no país, especialmente para os 20 por cento da população que estão na pobreza.
A Confederação Grega do Comércio disse que só em Atenas os danos às empresas atingiram 200 milhões de euros, sendo que 565 lojas foram seriamente danificadas.