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Julgamento de Fujimori no Peru completa um ano e entra na etapa final

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Agência AFP

LIMA - O julgamento de Alberto Fujimori por violação dos direitos humanos (primeira vez que um ex-chefe de Estado comparece à Justiça no Peru) completou um ano nesta quarta-feira, em um processo definido por acusadores e defensores como transparente e que agora se aproxima da reta final: um veredicto é esperado para o início de 2009.

Para a promotoria e os advogados de defesa, no caso das duas matanças que deixaram 25 vítimas (acusações centrais do processo) existe a certeza de que a sentença será condenatória, e que Fujimori, de 70 anos, provavelmente passará o resto da vida na cadeia.

A defesa, no entanto, sustenta que as mais de 120 audiências realizadas até agora não provaram que Fujimori tenha planejado uma política de guerra suja no combate à guerrilha maoísta Sendero Luminoso, nem que tenha criado o esquadrão de extermínio que executou uma série de matanças durante seu mandato (1990-2000).

O processo, no qual o promotor José Peláez pediu 30 anos de prisão para o réu, seria concluído no final de janeiro ou no início de fevereiro com o veredicto, segundo cálculos das duas partes.

- Estamos fazendo história, porque temos um ex-presidente sentado diante da Justiça respondendo por seus crimes; isso não acontece todos os dias. Além disso, o julgamento é transparente, com magistrados íntegros - disse à AFP Ronald Gamarra, diretor da Coordenadoria Nacional dos Direitos Humanos.

Gamarra, que defende as vítimas das matanças de Barrios Altos (novembro de 1991, quinze mortos) e da Universidade La Cantuta (julho de 1992, dez mortos) disse estar convencido de que a sentença será a condenação.

- Há um conjunto de evidências e provas que apresentamos que justificam uma sentença contra ele, que deve ser proferida no fim de janeiro, mais tardar - afirmou.

Do outro lado da disputa judicial, César Nakazaki, defensor de Fujimori, estimou que - a condenação é um cenário possível.

Ele declarou que o desempenho do tribunal presidido pelo juiz César San Martín tem sido "impecável", garantindo todos os direitos de seu cliente.

"Não foi provado que o ex-presidente Fujimori criou uma política de violação dos direitos humanos, nem que foi idealizador e dirigente do Grupo Colina (esquadrão militar autor das matanças)", disse o advogado à emissora RPP, de Lima.

Ao longo do ano, o julgamento sofreu alguns atrasos devido à saúde do ex-presidente, que sofreu um câncer na língua - já controlado -, uma cirurgia para extrair um cisto benigno no pâncreas e problemas gastrointestinais e de hipertensão, que estão sendo tratados.

A Associação Pró-Direitos Humanos (Aprodeh) fez um apelo aos organismos que combatem a impunidade para que "se mantenham alertas contra possíveis pressões" que o tribunal que julga Fujimori pode sofrer na etapa final do processo.

"A dupla política antisubversiva aplicada por Fujimori na década passada, que causou mortes e desaparecimentos clandestinos, mascarada por um aparente respeito aos direitos humanos, trouxe como conseqüência violanções de princípios fundamentais como a vida humana", estimou.

O processo, que atualmente passa por um breve recesso, será retomado na próxima segunda-feira, 15 de dezembro, com a abertura da apresentação de provas audiovisuais, à qual se seguirão as alegações finais e a sentença.