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Vitória de Obama sinaliza mudança em relações raciais

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Portal Terra

WASHINGTON - Para os norte-americanos assolados pelo peso da história, algo outrora inimaginável aconteceu. Os Estados Unidos elegeram um presidente negro.

O que mudou em termos raciais para permitir que o democrata Barack Obama derrotasse o republicano John McCain, e quais podem ser as consequências disso?

O ativista dos direitos civis Jesse Jackson disse que sua satisfação com a vitória de Obama está condicionada ao sentido da história. Jackson testemunhou o assassinato de Martin Luther King, em 1968, e disputou a Presidência duas vezes, na década de 1980.

- Sua vitória significa que a América está melhorando. Estamos mais maduros. Estamos menos ansiosos entre nós - disse ele numa entrevista.

Jackson colocou esta eleição no contexto do movimento contra a segregação racial no sul do país, nas décadas de 1950 e 60, e da obtenção do direito ao voto para os negros.

- Conheço muitos brancos, negros e judeus que foram a passeatas e foram martirizados. Gostaria que aqueles que prestaram o supremo sacrifício pudessem ver os resultados do seu trabalho.

Nas primeiras primárias deste ano, surpreendeu o expressivo eleitorado branco de Obama. Ao mesmo tempo, o senador conseguiu cerca de 90 por cento do voto dos negros nesta terça-feira, numa identificação reforçada depois do histórico discurso dele sobre a questão racial, em março.

- A primeira coisa que a presidência de Obama significa para os negros é, ao menos momentaneamente, um sentido de cidadania plena - disse Melissa Harris-Lacewell, professora de Ciência Política na Universidade Princeton.

Alguns fatos, porém, teimam em demonstrar uma desigualdade que Obama pode ter dificuldades em combater, devido ao precário estado da economia.

Os negros formam cerca de 13 por cento da população, mas ganham menos e são menos saudáveis que a média. Também são mais afetados pelo desemprego, a pobreza e as condenações criminais.

Há um debate sobre as causas dessas disparidades - preconceito, desvantagens sociais (como a carência educacional em bairros negros) ou se simplesmente os afro-americanos deveriam se empenhar mais para melhorar de vida.

Os freqüentes conselhos de Obama para que os pais desliguem a televisão, mandem as crianças fazerem lição e cuidem melhor da saúde dos filhos poderiam ditar o rumo desse debate. E, na opinião de Harris-Lacewell, uma melhora na saúde pública seria uma medida decisiva do governo Obama no combate às disparidades.

Mas há quem tema que a vitória de Obama prejudique as reivindicações dos negros. - As pessoas dirão: 'Vocês elegeram um presidente negro, acabamos com raça' - disse William Jelani Cobb, autor de livros sobre a cultura negra contemporânea.

JOVENS

As pesquisas mostram que muitos jovens foram às urnas por causa de Obama. Esse apoio é parcialmente um produto da integração escolar, iniciada na década de 1960, embora recentes estudos mostrem que o processo de integração racial está sendo abandonado.

A presença jovem no eleitorado de Obama mostra também a visibilidade dos afro-americanos na cultura popular, especialmente na música, na TV e no cinema. Jackson argumentou que a presença dos negros nos esportes também contribuiu para transformar as atitudes raciais.

Finalmente, algo que teve pouca importância na campanha, mas que pode ser relevante a partir de 2009 - durante quatro anos, a primeira-família será negra. Os norte-americanos verão as filhas de Obama, de 10 e 7 anos, crescerem na Casa Branca. É uma imagem que pode dar aos jovens negros uma nova impressão sobre as oportunidades abertas para essa geração.