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Após euforia com vitória de Obama, mercados se voltam para desafios

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Agência AFP

PARIS - Os mercados financeiros se renderam, nesta quarta-feira, à amplitude dos desafios econômicos à espera do presidente americano eleito, Barack Obama, após o alívio causado pelo fim da incerteza política que pesava sobre a maior economia mundial.

A maioria das Bolsas européias terminou o pregão em queda: Londres cedeu 2,34%; Paris, 1,98%; Frankfurt, 2,11%; e Milão, 1,44%. Já Madri ganhou 0,18%.

Wall Street também evoluía em baixa, com o Dow Jones caindo 1,72% e o Nasdaq 2,08%, por volta das 16h GMT (14h de Brasília).

Depois de absorver a vitória largamente esperada do democrata, os investidores voltaram suas atenções para as conseqüências da pior crise econômica já registrada em quase 80 anos.

- O próximo presidente terá de enfrentar uma economia em plena deterioração, e isso não escapou aos olhos de Wall Street, comentou Andrea Kramer, da Schaeffer''s Investment.

- No presente, entramos em um período longo e sombrio até que Obama tome posse na Casa Branca, em 20 de janeiro de 2009 - observou Howard Wheeldon, estrategista da BCG Partners, acrescentando que - até lá, é pouco provável que haja notícias econômicas positivas.

Logo após o anúncio da vitória de Obama, os mercados da Ásia-Pacífico fechavam em nítida alta, tomados por um sentimento de otimismo. Tóquio ganhava 4,46%, no encerramento; Hong Kong, 3,2%; e Xangai, 3,16%.

Globalmente, o desfecho da eleição presidencial americana é visto como positivo, - com o sentimento de que, talvez, tenhamos virado a página - após meses de campanha e de uma dramática crise financeira, observava em Nova York o analista Marc Pado, da Cantor Fitzgerald.

O ex-economista-chefe do Federal Reserve de Nova York Sherrill Shaffer também espera uma "estabilização" dos mercados após semanas de tormenta.

A moeda americana se fortalecia ligeiramente em relação ao euro, cotado a 1,2891 dólar, às 14h GMT (12h de Brasília) desta quarta, contra 1,2975 dólar, na terça-feira, por volta das 22h GMT (20h de Brasília).

Em um contexto de recessão mundial, o dólar tem boas chances de encontrar uma posição de valor refúgio, acreditam os especialistas.

A cotação do petróleo, commodity vítima dos temores de uma retração na demanda provocada por um desaquecimento econômico, estava a 68,31 dólares o barril, em queda de 2,22 dólares, em Nova York, às 16h GMT (14h de Brasília).

Sinal do tamanho das dificuldades que aguardam pelo novo ocupante da Casa Branca, o setor privado americano perdeu 157.000 empregos em outubro, depois de ter cortado 26.000 vagas em setembro. A atividade no setor de serviços nos EUA também se retraiu em outubro.

Esses números deixam entrever más notícias em relação às estatísticas de emprego, cuja publicação na sexta-feira é esperada com preocupação pelos investidores.

Na Europa, as vendas do comércio varejista na Zona Euro caíram 1,6% em um ano, em setembro, e o índice PMI do setor manufatureiro na Zona Euro registrou, em outubro, sua maior queda mensal desde julho de 1998.

Na quinta-feira, as autoridades monetárias devem fazer uma nova tentativa para estimular o crescimento, com uma baixa esperada das taxas do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra, enquanto que a Comissão Européia prevê uma recessão para a Zona Euro nos três últimos trimestres de 2008.

Hoje, o governo alemão adotou uma série de medidas destinadas a apoiar a economia, ao custo geral de cerca de 23 bilhões de euros em quatro anos, prevendo, sobretudo, isenções fiscais e um programa de investimento público em infra-estrutura.

Na Itália, o chefe de Governo Silvio Berlusconi declarou que o plano de apoio aos bancos, estimado em até 30 bilhões de euros pela imprensa local, deverá ser adotado "na próxima semana".

De fato, a crise bancária está longe de ser superada. O banco francês BNP Paribas anunciou um lucro em queda de 55% no terceiro trimestre, com forte alta nos créditos duvidosos, quase duas vezes acima de seu nível de 2007.

As securitizadoras de crédito americanas Ambac e MBIA também anunciaram perdas para o terceiro trimestre, de 2,43 bilhões de dólares e 806,5 milhões de dólares, respectivamente.

Na indústria, o número um mundial do aço, ArcelorMittal, anunciou uma redução de 30% de sua produção no quarto trimestre, contra os 15% inicialmente previstos.

Enquanto isso, continua a preparação para a cúpula do G-20, em 15 de novembro, perto de Washington, com os grandes atores do encontro marcando posição sobre uma possível revisão do sistema financeiro internacional.

Em Moscou, o presidente russo, Dmitri Medvedev, voltou a rejeitar a responsabilidade da crise sobre os EUA e expressou sua vontade de trabalhar para uma "reforma radical" dos sistemas econômicos.

- Preparamos nossas propostas para a criação de uma nova arquitetura econômica que deverá ser protegida da utilização no interesse de um único país, frisou, evocando uma melhor avaliação dos riscos e das normas contábeis harmonizadas.

Ontem, os 27 ministros europeus das Finanças definiram os grandes princípios de reforma do sistema financeiro que pretendem defender: regulação das finanças mundiais e um papel reforçado para o Fundo Monetário Internacional (FMI).