Agência AFP
GENEBRA - A ministra suíça das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, quebrou um tabu nesta segunda-feira ao se tornar a primeira chefe da diplomacia de um país democrático disposta a dialogar diretamente com Osama bin Laden.
- A rejeição ao diálogo é sempre estéril - sentenciou Calmy-Rey durante a reunião anual dos embaixadores da Suíça em Berna.
Na opinião da chanceler, a diplomacia suíça tem que 'combater a rejeição sistemática do diálogo', inclusive com as pessoas 'não freqüentáveis' como o líder da rede terrorista Al-Qaeda.
Ao contrário de outros países, a Suíça não mantém uma lista de organizações terroristas. Na Suíça, pertencer a um movimento considerado como tal, inclusive pela ONU, não é crime. A lei suíça pune apenas as atividades criminosas cometidas pelos membros destas organizações.
- É claro que movimentos como o Hezbollah, o Hamas, as Farc, os separatistas tâmeis da LTTE ou os rebeldes ugandeses da LRA recorrem a métodos terroristas que reprovamos. No entanto, todos eles são atores políticos importantes, imprescindíveis na busca da resolução de um conflito - argumentou a chanceler.
- Alguns ficam indignados com essa posição que consideram leniente com o terrorismo. Porém, não nos deixemos enganar: o diálogo não leva necessariamente a aceitar o inaceitável, entender não significa desculpar nem aprovar - insistiu.
A ministra se disse consciente de que sua inusitada posição pode suscitar muitas críticas no âmbito internacional. As autoridades colombianas denunciaram diversas vezes os suíços por terem dado asilo a comandantes da guerrilha das Farc, e questionaram recentemente o papel do mediador suíço no caso dos reféns.
O mediador, Jean-Pierre Gontard, é suspeito pela justiça colombiana de ter entregue 500.000 dólares à guerrilha em troca da libertação de dois funcionários da companhia farmacêutica suíça Novartis em 2001. Gontard e as autoridades suíças desmentiram categoricamente a existência de tal pagamento.