Jornal do Brasil
RIO - O ex-primeiro-ministro paquistanês Nawaz Sharif retirou ontem seu partido, o PML-N, da coalizão governista, aprofundando uma crise política responsável por afastar o governo dos problemas econômicos e de segurança enfrentados pelo Paquistão.
A manobra ocorreu apenas uma semana depois de os partidos da coalizão terem comemorado a renúncia do presidente Pervez Musharraf, ameaçado pelos governistas de ser tirado do cargo por meio de um processo de impeachment.
Segundo Sharif, o partido da primeira-ministra assassinada Benazir Bhutto, que lidera a coalizão, havia descumprido várias promessas a respeito da solução de uma disputa judicial e a respeito de quem deve ser o próximo presidente do Paquistão.
Sentimos, portanto, que essas omissões e violações nos obrigam a retirar nosso apoio à coalizão governista e passar para o lado da oposição justificou.
Sem eleição
A debandada da legenda de Sharif não levaria a uma nova eleição geral já que o Partido do Povo Paquistanês (PPP), de Benazir, deve conseguir apoio suficiente a fim de se manter no poder, afirmaram analistas.
Com a renúncia do presidente, a coalizão, formada depois de os aliados de Musharraf terem sido derrotados na eleição geral de fevereiro, mostrou-se cada vez mais instável.
O PPP e o partido de Sharif eram rivais declarados nas décadas de 80 e 90, quando Benazir e Sharif foram ambos escolhidos duas vezes como primeiro-ministro. No entanto, mais recentemente, as legendas encontraram um terreno em comum ao fazerem oposição a Musharraf.
A saída de Sharif, de toda forma, mina a lógica da aliança deles, disseram analistas. As duas legendas não conseguiram, nos últimos dias, chegar a um consenso sobre quem pode substituir Musharraf na Presidência.
O mais cotado continua sendo Asif Zardari, viúvo de Benazir, morta em um atentado semanas depois de voltar do exílio, em dezembro do ano passado.
Sharif retirou seus ministros do gabinete de governo depois de ter chegado ao fim um prazo para que fossem recolocados em seus cargos juízes afastados por Musharraf. O ex-premier ameaçou várias vezes sair da coalizão e, na semana passada, elegeu o dia de ontem como data final para que suas reivindicações fossem atendidas.
Segundo analistas, o PPP está relutante em reinstalar os juízes, em parte devido à suspeita de que o presidente do tribunal máximo do Paquistão poderia aceitar a denúncia contra a anistia conferida a Zardari, chefe do partido, e a outros líderes da legenda em meio a um caso de corrupção.
Antes de Musharraf tê-los tirado do cargo, os juízes e o ex-presidente do tribunal em particular mostravam-se bastante dispostos a desafiar a legalidade de várias medidas adotadas pelo governo dele, uma tendência que o PPP, agora no governo, não vê com muito entusiasmo.