Lúcia Jardim, Portal Terra
PARIS - Os católicos praticantes não perdoaram a rápida ligação de Nicolas Sarkozy a Carla Bruni, oficializada apenas quatro meses após o fim do casamento do presidente francês com Cecília Albéniz, com que fora casado por 11 anos. Um pesquisa mostra que o índice de confiança dos católicos no presidente francês caiu de 83%, no início do seu governo, a 57%, em julho passado - o que representa uma queda de 68% no número de pessoas que apostam no sucesso no chefe de Estado.
Além da separação e do novo casamento, o estudo aponta que fatos isolados como o presidente ter verificado sua caixa postal do celular em pleno encontro com o Papa Bento XVI também contribuíram para a queda brusca de popularidade entre os seguidores da religião, a mais popular na França.
Nos últimos seis meses, o índice de confiança dos católicos no presidente se manteve em média de 56%. Foi precisamente as sondagens realizadas entre dezembro de 2007 e fevereiro deste ano que puxaram o resultado em definitivo para baixo, aponta o retrospecto das pesquisas, que de maio - posse de Sarkozy na presidência - a novembro apontavam valores em torno dos 80%.
- A despencada correspondente ao anúncio da relação dele com Carla Bruni e à divulgação das fotos do casal na Disneylândia de Paris, em dezembro - explica Jérôme Fourquet, diretor-adjunto do Departamento de Opinião do Ifop, o instituto responsável pela pesquisa.
Fourquet ressalta que a imagem do presidente consultando as mensagens de texto no celular durante um encontro com o pontífice, ocorrido no mesmo mês, desencadeou de vez a desconfiança dos católicos face a Sarkozy, embora 84% digam ter aprovado o divórcio do casal presidencial.
No entanto, quando o conservador decide oficializar sua relação com a nova namorada, mais uma vez os católicos ficam com os pés atrás: enquanto 5% dos franceses em geral rejeitaram a nova união, entre os católicos esse índice foi de 15%.
Desde então, o presidente tenta reverter sua imagem frente a este eleitorado, que responde por estimados 53% da população - os índices relativos à quantidade de fiéis de cada religião na França não são exatos porque, devido à laicidade (separação completa entre Estado e Igreja), este tipo de pesquisa é proibido no país.
Contudo, mais uma vez, Sarkozy erra na estratégia ao colocar em questão a laicidade e fazer discursos pró-católicos. Como a laicidade é um dos valores fundamentais da República francesa, à qual a população é estritamente ligada, o grau de confiança no presidente voltou a cair ainda mais, chegando a 42% em março.
- Os franceses, inclusive os católicos, reprovaram ardentemente a evocação, feita pelo presidente, das 'raízes cristãs da França'. Podemos concluir que os franceses são mais apegados aos valores da República, neste caso, a laicidade, do que às suas opções religiosas particulares - afirma Fourquet.
No que diz respeito às outras religiões, a pesquisa apontou que, nos últimos seis meses, em média 46% dos protestantes depositam confiança no presidente (contra 38% dos franceses em geral), e que a religião que menos deposita confiança no chefe de Estado é a muçulmana, na qual a taxa é de apenas 21% entre os praticantes.