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Número de mortos por ciclone em Mianmar sobe para 22.464

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REUTERS

MIANMAR - O violento ciclone no delta do Irrawaddy, em Mianmar, provocou uma gigantesca onda que deixou as pessoas sem ter para onde fugir, matando pelo menos 22,5 mil e deixando 41 mil desaparecidos, disseram autoridades.

- Mais mortes foram causadas pelo maremoto do que pela tempestade propriamente dita - disse o ministro de Auxílio e Recolocação, Maung Maung Swe, em entrevista coletiva na devastada Yangon, antiga capital do país, onde já começa a faltar água e comida.

- A onda tinha até 3,5 m de altura e inundou metade das casas em aldeias baixas - disse ele, oferecendo a primeira descrição detalhada do ciclone do fim de semana. - Os moradores não tinham para onde fugir.

Foi o pior ciclone na Ásia desde 1991, quando 143 mil pessoas morreram em Bangladesh. O ministro da Informação, Kyew Hsan, afirmou que as Forças Armadas estão "fazendo o seu melhor", mas analistas viram na tragédia um golpe para o regime militar da antiga Birmânia, que se orgulha da sua capacidade de lidar com qualquer problema.

- O mito que eles projetaram de serem bem preparados foi totalmente varrido - disse o analista político Aung Naing Oo, que fugiu para a Tailândia depois da brutal repressão a uma rebelião em 1988. - Isso pode ter um tremendo impacto político em longo prazo.

Por causa do desastre, a Junta Militar decidiu adiar para 24 de maio um referendo constitucional nas áreas mais atingidas de Yangon e do vasto delta do Irrawady. De acordo com a TV estatal, no resto do país o referendo está mantido para o dia 10.

O objetivo é aprovar um "mapa para a democracia", muito criticado nos países ocidentais, especialmente depois da sangrenta repressão a uma rebelião liderada por monges budistas em setembro passado.

O governo de Mianmar, que há 50 anos era o maior exportador mundial de arroz, disse ter estoques suficientes do cereal para alimentar a população, apesar dos estragos nos armazéns do delta.

O chanceler da Tailândia, Noppadol Pattama, reuniu-se em Bangcoc com o embaixador birmanês, que lhe disse haver 30 mil desaparecidos por causa do ciclone Nargis.

- Os prejuízos foram muitos maiores do que esperávamos - disse o chanceler. O embaixador Ye Win não quis falar a jornalistas.

Fontes da ONU dizem que centenas de milhares de pessoas ficaram desabrigadas por causa dos ventos de até 190 quilômetros por hora e do maremoto subseqüente.

Habitualmente recluso, o regime militar desta vez aceitou a ajuda internacional, ao contrário do que fez depois do tsunami de 2004 no oceano Índico.

Bernard Delpuech, funcionário humanitário da União Européia em Yangon, disse que a Junta Militar enviou três navios com comida à região do delta. Quase metade dos 53 milhões de birmaneses vive nos cinco Estados atingidos pela tragédia.

A mídia, controlada pelo regime, não se cansa de mostrar soldados em atividades heróicas e simpáticas, mas, numa população ainda marcada pela repressão de setembro, há uma inevitável sensação de revolta.

- O regime perdeu uma oportunidade de ouro para enviar os soldados assim que a tempestade parou, para conquistar o coração e a alma das pessoas - disse um funcionário público aposentado. - Mas cadê os soldados e a polícia? Foram muito rápidos e agressivos quando houve protestos nas ruas no ano passado.

A ONG humanitária World Vision disse na Austrália ter recebido vistos especiais para enviar pessoal para ajudar os seus cerca de 600 funcionários em Mianmar.

- Isso mostra como na cabeça do governo birmanês isso é grave - disse Tim Costello, diretor da organização.

Uma lista de mortos e desaparecidos em cada cidade, lida pelo general-ministro Nyan Win, cita 14.859 vítimas fatais no delta do Irrawady e 59 na Grande Yangon, a maior cidade do país, com 5 milhões de habitantes. Quatro dias depois do ciclone, a antiga Rangum continua sem eletricidade, e os moradores fazem fila para comprar água engarrafada

Os preços dos alimentos, dos combustíveis e dos materiais de construção dispararam. Velas e pilhas se esgotaram na maioria das lojas. Um ovo custa três vezes mais do que custava na sexta-feira.