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ARGENTINA - O ministro da Economia da Argentina, Martín Lusteau, renunciou ao cargo na noite de quinta-feira, disseram fontes oficiais, em uma decisão que sacode o governo de Cristina Kirchner, há menos de cinco meses na presidência.
Ela enfrenta desde o mês passado sua primeira crise política por causa de um confronto com o setor agrícola ainda sem solução. As mesmas fontes do governo informaram que o novo ministro da Economia será Carlos Fernández, que até o momento conduzia o organismo arrecadador de impostos e que é um homem próximo ao chefe de gabinete, Alberto Fernández. A agência de notícias estatal Télam também confirmou a informação.
O jovem economista Lusteau foi o arquiteto de um sistema de impostos móveis sobre as exportações de grãos, anunciado no mês passado e que desatou um forte protesto dos produtores rurais.
Depois do anúncio, o setor agropecuário iniciou uma greve comercial de três semanas em repúdio à medida, que provocou o desabastecimento de alimentos no país.
Após a suspensão da medida, em 2 de abril, o governo e os produtores iniciaram um período de diálogo para chegar a um acordo, mas as negociações estão travadas. Lousteau já não participava mais das conversas.
- Faz falta uma mudança de política mais do que mudança de pessoa - disse a um canal de TV Mario Llambías, titular das Confederações Rurais Argentinas, ao saber da renúncia do ministro.
Lousteau, um dos poucos ministros do gabinete que Cristina Kirchner herdou do governo de seu marido, Néstor Kirchner, estava em confronto com o principal promotor de uma nova metodologia de medição da inflação, o secretário de Comércio Exterior, Guillermo Moreno, o que gerou conflitos dentro do gabinete.
Moreno é um poderoso funcionário, que impulsionou uma polêmica política de controle de preços que possibilitou à Argentina frear a inflação.
A inflação segue sendo o maior desafio do governo. Apesar de as cifras oficiais indicarem que ela se mantém em um nível inferior a 9 por cento ao ano, analistas e consumidores asseguram que o número real chega ao triplo disso e acusam o órgão responsável pelas estatísticas de manipular os dados.
Segundo a mídia local, Lousteau também havia apresentado um plano para desacelerar a economia, que cresce desde 2003 a taxas superiores a 8 por cento anuais.
A idéia foi duramente rechaçada pelo ex-presidente Kirchner, com grande influência sobre o governo de sua mulher, em um discurso na quinta-feira.
Uma das principais líderes da oposição, Elisa Carrió, disse na madrugada de sexta-feira que a mudança de funcionários 'significa a intervenção direta de (Néstor) Kirchner no Ministério da Economia, um aval tremendo a Moreno (...) e uma má-notícia para o povo'.