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MIAMI - Há 20 anos, notícias de que Fidel Castro tinha sido substituído como presidente de Cuba teriam causado tremendas comemorações na comunidade de cubanos exilados em Miami e uma preparação febril de retorno à pátria deixada para trás.
Mas Little Havana recebeu a transferência de poder para o irmão mais novo de Fidel, Raúl Castro, no domingo, com indiferença e bocejos.
- Castro continuará a ter o poder. Cuba continuará a ser a mesma e ninguém terá liberdade - disse Eduardo Migueltorena, um corretor imobiliário que chegou à Flórida no êxodo de Mariel, em 1980.
Não havia televisões ou rádios sintonizados nos noticiários nos populares restaurantes Versailles ou La Carreta, frequentados pela comunidade cubano-americana de 650 mil pessoas em Miami.
E não houve demonstrações nas ruas como em 2006, quando Fidel passou o poder temporariamente a seu irmão em razão da doença.
Mesmo a surpreendente indicação de José Ramón Machado Ventura, um ideólogo comunista e revolucionário da velha guarda, como o segundo no comando de Cuba, foi tratada com desinteresse.
- Sob o governo de Castro, não importa quem é o segundo. Talvez eles estivessem com medo de que se mudassem muito iriam perder poder - disse o comerciante Juan Fiol, 66, que deixou Cuba em 1961, encolhendo os ombros.
Quartel-general da oposição a Fidel Castro e seu governo comunista, Little Havana é há muito tempo a casa dos primeiros exilados que deixaram Cuba depois da revolução de 1959, e agora, de seus filhos e netos.
Muitos dos primeiros que chegaram pensavam que Castro seria deposto e que eles voltariam logo a Cuba. Quase meio século depois, eles ainda estão olhando melancolicamente para o outro lado do estreito da Flórida.
- Desde o primeiro dia eu tenho esperado por esse dia, aguardado ansiosamente esse dia - disse Jaime de Hombre, 69, que chegou a Miami em 1959.
- É decepcionante. Eu gostaria de vê-lo (Fidel Castro) sofrer.
- Melhor se Castro morrer - acrescentou sua mulher, Glória.
Como Fidel sobreviveu a muitos na velha geração de exilados, a paixão esmaeceu entre os cubanos de Miami e para alguns o desejo de retornar à ilha desapareceu, já que criaram raízes mais profundas em Miami, 320 quilômetros ao norte da ilha.
- Nós estamos aqui. Estamos ficando - disse Victória, 76, que deixou Cuba em 1959.
- O que nós vamos fazer? Nossos filhos estão aqui, nossos netos estão aqui.
- Talvez 15 anos atrás poderíamos voltar. Mas agora não. É muito tarde - disse sua amiga Maggie, que chegou em 1961.
Para a geração mais jovem de cubanos, Miami 'e sua casa'.
- Eu sou americano. É isso que sou - disse Rick Wong, 49, cuja família mudou para os Estados Unidos em 1963.
- As crianças estão aqui há muito tempo, elas são americanas.