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YANGON - O regime militar de Mianmar anunciou no sábado que realizará um referendo sobre uma nova Constituição em maio, seguida por eleições em 2010, em um plano criticado como um modo de reduzir a pressão, depois da repressão contra manifestantes no ano passado.
- Conquistamos o sucesso nos setores econômico, social e na restauração da paz e da estabilidade - anunciou a junta na televisão estatal, quatro meses depois que o Exército reprimiu protestos pacíficos pró-democracia liderados por monges budistas, matando pelo menos 31 pessoas.
- Então, eleições multipartidárias e democráticas serão realizadas em 2010', dizia o comunicado divulgado em nome do secretário número um tenente-general Tin Aung Myint Oo, alto membro da junta militar.
As eleições serão as primeiras na antiga Birmânia desde 1990, quando a Liga Nacional pela Democracia (LND) venceu as eleições multipartidárias canceladas depois pelos militares.
A LND, que boicotou a Assembléia Constituinte, uma vez que Suu Kyi, líder do partido e ganhadora do prêmio Nobel da Paz, continua em prisão domiciliar, disse que o anúncio é 'aleatório'.
- Marcaram a data das eleições antes de conhecer os resultados do referendo. Não consigo deixar de pensar como o referendo será conduzido - disse Nyan Win, porta-voz da LND.
O Burma Campaign UK (campanha da Birmânia, Reino Unido), um grupo de Londres defensor da democracia, considerou o comunicado 'um truque de relações públicas'.
- Não é coincidência que o anúncio tenha sido feito no momento em que o regime está enfrentando sanções econômicas cada vez maiores, depois da repressão brutal contra as manifestações pró-democracia - disse o diretor do grupo, Mark Farmaner, em nota.
Ele disse que o comunicado representa 'um distanciamento da democracia, e não uma aproximação dela', observando que o projeto constituinte prevê a institucionalização do regime militar, dando poder de veto aos militares em decisões tomadas pelo Parlamento.
Em Bangcoc, o porta-voz de um grupo de deputados exilados eleitos em 1990 que fugiram do país, quando os militares rejeitaram os resultados das eleições, afirmou que a notícia não tem nenhum significado, a menos de Suu Kyi seja libertada e participe do processo eleitoral.
- Sem a participação de Suu Kyi, a LDN, os partidos étnicos e o povo não aceitarão essa Constituição - disse Zin Linn, do Governo de Coalizão Nacional da União da Birmânia.
O anúncio de sábado da junta não menciona a participação da LDN, mas a Constituição impede a participação de Suu Kyi em um artigo que proíbe a candidatura de cidadãos casados com estrangeiros.
O marido de Suu Kyi, o acadêmico britânico Michael Aris, morreu com março de 1999.
A nova Constituição, que está sendo redigida em uma Assembléia Constituinte nacional estabelecidas na década de 1990, logo será finalizada, segundo o anúncio.
- De acordo com o quarto passo e o sétimo passo do plano da trajetória para a democracia, um referendo nacional será realizado em maio de 2008 para retificar a nova Constituição - diz o anúncio.
O governo anunciou o plano de sete passos em 2003, mas havia se recusado a estabelecer um cronograma, até agora.