Agência EFE
BUENOS AIRES - Cristina Fernández de Kirchner tornou-se neste domingo, dia 18, a primeira presidente eleita da história argentina, segundo pesquisas de boca-de-urna, o que vai permitir coroar a sociedade política que fez nos anos 1970 com o marido, o presidente Néstor Kirchner, de quem receberá o poder.
Lidar com o poder e o governo não é algo novo para Cristina Kirchner. Durante os quatro anos da gestão do marido ela foi a mulher mais poderosa da Argentina, por seu duplo papel de senadora e primeira-dama.
Admiradora declarada de Hillary Clinton e Eva Perón em sua versão mais combativa, "Cristina é a mudança que acaba de começar", como diz seu slogan de campanha, embora ela prometa manter o bem-sucedido modelo econômico implantado por Kirchner nos últimos cinco anos razão, aliás, de seu amplo favoritismo.
Quando assumir o governo, em 10 de dezembro, a Argentina estará concluindo o quinto ano seguido de expansão econômica a taxas superiores a 8 por cento.
Advogada, 54 anos, Cristina é parlamentar desde 1989. Chegou à cena política muito antes do marido, ao protagonizar intensos debates no Congresso, onde mais de uma vez dominou seus adversários valendo-se de seus dotes de oradora e de sua bagagem intelectual.
Dona de personalidade forte, não hesitou em atacar publicamente o vice-presidente, Daniel Scioli, durante uma sessão no Senado, acusando-o de armar uma "operação de imprensa" para dar a impressão de que ela tomava decisões pouco transparentes na formação de comissões parlamentares.
"Os Pinguins", apelido do casal Kirchner devido a sua origem na fria Patagônia, compartilham da mesma ideologia e militância numa parceria sólida que há cinco anos nem pensaria em chegar à Casa Rosada.
Em questões de estilo, porém, eles são totalmente diferentes.
Ao contrário de Kirchner, com quem se casou em 1975, Cristina mostra evidente preocupação com a aparência, o que lhe transformou em alvo de várias ironias durante a campanha. Ela tem mais interesse nas relações internacionais do que em protagonizar cenas de políticos beijando crianças em favelas.
- Não quero herdar nada, nem de Eva [Perón], nem de Kirchner, nem de ninguém. Ganhei tudo por meus méritos e por meus defeitos também - disse ela em Madri pouco depois de ter se lançado candidata, em julho.
Cristina se aproxima da Presidência quase em silêncio só falou em comícios e em pouquíssimas entrevistas , numa campanha minuciosamente planejada.
- Ela tem um caráter obsessivo e é impetuosa. Quer todas as coisas assim (perfeitas): se alguém está falando com ela em casa e pega um livro de uma mesa, logo ela vai acomodá-lo onde estava antes - descreveu Jorge Di Mauro, autor de um livro sobre a primeira-dama.
A futura presidente não só deve preservar a política econômica e social do marido, como também já antecipou que manterá estreita relação com os presidentes do Brasil e da Venezuela, Hugo Chávez, com quem trocou elogios durante a campanha.
Cristina e Néstor Kirchner se conheceram na juventude, como militantes do peronismo de esquerda. A relação evoluiu para uma família com dois filhos, de 30 e 17 anos.