Agência EFE
NOORDWIJK - A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) pediu nesta quinta-feira, dia 25, à Rússia que não se retire do tratado sobre Forças Armadas Convencionais na Europa (Face), conforme já foi anunciado pelo país.
Russos e americanos começam a se entender melhor quanto ao projeto dos Estados Unidos de montar um sistema antimísseis na Europa.
O secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop Scheffer, declarou hoje após uma reunião entre os ministros da Defesa da entidade com o da Rússia que há uma nova 'atmosfera construtiva', apesar das divergências que existem sobre o sistema antimísseis e a questão da independência do Kosovo.
A Duma (Parlamento russo) deve começar em novembro o debate sobre a saída do país do Face, anunciada pelo Kremlin em julho e marcada para 12 de dezembro.
O secretário-geral pediu que ninguém tome 'decisões irreversíveis' e que seja dada 'uma oportunidade ao processo' de discussões entre Washington e Moscou. De Hoop Scheffer não ressaltou que 'a atmosfera mudou, de muito negativa para uma em que as partes conversam de forma construtiva'.
Esta mudança se deve ao fato de que 'há uma disposição muito substancial' por parte dos EUA, além de os americanos terem 'uma melhor compreensão' de algumas das preocupações demonstradas pela Rússia.
As conversações foram reiniciadas após as conversas do último dia 12, quando os ministros do Exterior e da Defesa russos se reuniram com seus colegas americanos.
Nas últimas semanas, os EUA disseram à Rússia estarem dispostos a colaborar de forma conjunta para a instalação de um escudo antimísseis na Europa. E, na terça-feira, o secretário de Defesa americano, Robert Gates, propôs à Rússia manter suspensa a construção do escudo até ter provas definitivas sobre uma possível ameaça de mísseis procedentes do Irã.
Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e dos EUA, George W. Bush, avaliaram positivamente as conversas durante uma conversa por telefone na segunda-feira.
Dentro deste clima, a Rússia aceitou hoje participar de uma simulação computadorizada da defesa antimísseis que acontecerá na Alemanha daqui a três semanas.
Por isso, De Hoop Scheffer espera que a retirada russa do Face não se concretize.
O sistema americano prevê a instalação de um radar na República Tcheca e de uma base de lançamento de mísseis interceptores na Polônia.
Para o ministro da Defesa espanhol, José Antonio Alonso, as conversas entre Washington e Moscou 'deram frutos e reduziram um pouco a tensão' que houve no último Conselho Otan-Rússia.
Alonso insistiu que é 'essencial' a Rússia entender que a iniciativa não é contra ela, e por isso acha necessário que haja "diálogo e transparência com Moscou'.
Além disso, o espanhol declarou que o Face 'tem que entrar em vigor e ser cumprido'.
Antes da reunião com o ministro da Defesa russo, Anatoli Serdiukov, os ministros do setor dos países-membros da Otan concordaram que a ameaça de um ataque com mísseis às nações da aliança está aumentando.
Os ministros aprovaram um documento que avalia a evolução da ameaça de um ataque com mísseis.
"A ameaça dos mísseis está crescendo. Todos estão de acordo em dizer está crescendo', afirmou o porta-voz da Otan, James Appathurai.
O ministro da Defesa francês, Hervé Morin, declarou que há um consenso sobre o perigo crescente de um ataque com mísseis balísticos, mas que existem divergências sobre a iminência dela.
A Otan e a Rússia também discordam sobre o Kosovo, onde o órgão comanda quase 16 mil soldados sob mandato da ONU.
A Rússia se opõe à independência do Kosovo, e o trio formado com o país mais EUA e União Européia está acelerando os contatos com a Sérvia e a maioria albano-kosovar para conseguir algum acordo.
O trio deve apresentar um relatório ao secretário-geral da Otan em 10 de dezembro, apenas dois dias antes da prevista retirada russa do Face, motivo pelo qual várias fontes diplomáticas afirmam que os assuntos estão inter-relacionados.