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População birmanesa protege monges e noviços

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Agência AFP

MIANMAR - Há duas semanas a vida de Yin Phoe Htoo estava consagrada à rotina austera, mas serena do mosteiro de Yangun, ao qual chegou há cinco anos como noviço.

Todas as manhã, o adolescente de 15 anos se levantava às 4H00, tomava seu café e ia, com seu hábito cor de açafrão, se reunir com os colegas e receber oferendas.

Mas desde a brutal repressão de um movimento de protesto popular dirigido por milhares de bonzos, Yin Phoe Thoo passou a viver na clandestinidade, escondido na casa de uma família que costumava lhe dar esmolas.

Seu traje foi substituído por uma camiseta e um "longyi" (vestimenta tradicional birmanesa).

- Gostaria de voltar ao mosteiro. Tenho vergonha de viver aqui com esta família - explica o noviço, sob falsa identidade para reduzir os riscos de represálias pelo Exército.

No entanto, por ora, este jovem budista não tem outra alternativa.

Pelo menos três monges morreram e centenas foram agredidos e presos quando as forças de segurança reprimiram as manifestações de Yangun.

A violência da repressão, que permitiu às autoridades recuperar o controle da situação, comoveu a população desse país profundamente budista e os habitantes, que vivem perto dos mosteiros, decidiram abrigar os religiosos, apesar de todo o perigo.

Às vezes, Yin Phoe Htoo não dorme durante toda a noite. Quando entra em vigor o toque de recolher, às 22H00, os caminhões militares invadem alguns bairros de Yangun e os soldados ameaçam prrender qualquer pessoa envolvida nas manifestações.

- Os soldados utilizam o toque de recolher para lançar ataques contra os mosteiros e prender qualquer um que considerem líderes - explica uma senhora de 56 anso, que protege dois noviços, incluindo Yin Phoe Htoo.

Em 27 de setembro passado, uma operação particularmente violenta contra o mosteiro de Ngwekyaryan enfureceu os habitantes do bairro de Okkalapa, onde milhares de pessoas saíram às ruas para desafiar as autoridades. Os soldados, vítimas do pânico, dispararam contra a multidão, matando pelo menos oito pessoas.

- Nós estávamos totalmente desmoralizados, em particular as mulheeres, porque as tropas eram mais fortes e nós não podíamos proteger os monges - explica um morador do bairro, de 57 anos.

- Os religiosos de Ngwekyaryan são muito respeitados. Eles ensinam nossos filhos de graça - acrescentou.

No que diz respeito às causas da rise, Yin Phoe Htoo assinala que ele próprio pôde constatar o agravamento das condições de vida da população, principalmente depois dos aumentos dos preços em meados de agosto.

- Para as oferendas, as pessoas tinham o costume de nos dar arroz e curry. Depois era só arroz e agora muitos deixaram de nos dar arroz porque sequer podem comprá-lo para eles mesmos - concluiu.