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Hezbollah comemora 'vitória divina' um ano após guerra

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Agência JB

TERÃA - O Hezbollah comemora nesta terça-feira, com uma série de demonstrações e festividades, um ano da "vitória divina" que acredita ter obtido de Israel, na guerra travada em julho e agosto de 2006 no Líbano. Está previsto ainda um discurso do líder do grupo, Hassan Nasrallah.

A guerra, que teve início após o Hezbollah atacar uma patrulha israelense e capturar dois soldados na fronteira, matou mais de 1,2 mil libaneses (a maioria civis) e 157 israelenses (a maioria militares) nos seus 34 dias de duração.

Logo após o final do conflito, um ano atrás, Nasrallah discursara e proclamara uma vitória sobre Israel.

Em seu discurso, o líder dissera que a "resistência" havia supreendido o inimigo e que a "vitória" fora conquistada de maneira "divina".

A resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU, que pôs fim à guerra e previa o desarmamento do Hezbollah e o respeito pela soberania do Líbano, não foi totalmente implementada.

O grupo continuou se rearmando, trazendo armas pela fronteira com a Síria.

Segundo declarações de autoridades do governo e do próprio Hezbollah, o arsenal da milícia já contaria com algo entre 20 e 30 mil mísseis. Nasrallah já declarou em discursos anteriores que seu grupo está preparado para uma nova guerra se ela acontecer.

A força do Hezbollah no sul do país também não diminuiu, apesar da presença dos mais de 15 mil soldados do Exército libanês e de 13 mil integrantes das forças de paz da ONU (Unifil) que monitoram a região.

Libaneses que perderam suas casas ainda esperam reconstrução Além disso, Israel viola, periodicamente, o espaço aéreo libanês com vôos militares, comprovando que a resolução 1701 está longe de ser cumprida.

É fato que as forças da ONU conseguiram manter uma relativa ordem no sul do país, mas o medo de uma nova guerra com Israel continua no pensamento de muitos libaneses.

Nenhuma pesquisa foi realizada neste sentido, mas nas ruas e nas conversas percebe-se que a possibilidade de um novo conflito ainda povoa o imaginário.

O comandante da Unifil, major-general Claudio Graziano, mostrou em diversas oportunidades sua preocupação quanto ao fluxo de armas ilegais pela fronteira síria.

Em vários relatórios, a ONU salientou o crescimento de grupos armados libaneses e estrangeiros no Líbano.

O governo libanês posicionou tropas ao longo da fronteira para tentar conter o fluxo de armas, mas rotas clandestinas continuam sendo usadas.

No Vale do Bekaa, junto à fronteira síria e onde a Unifil não atua, há a presença de milícias palestinas que representam outro ingrediente na instabilidade do país.

Portanto, apesar dos trabalhos sociais e de reconstrução que os capacetes azuis vêm fazendo, seu principal objetivo está longe de ser atingido: impedir, junto com o Exército libanês, o fortalecimento militar do Hezbollah.

Além disso, a própria Unifil passou a ser alvo de hostilidades - um atentado em junho matou sete soldados espanhóis, e feriu outros dois, que patrulhavam uma área do sul, perto de Marjaayoun.

Outro fator que contribuiu para um sentimento de decepção entre os libaneses após um ano de conflito foram as crises políticas e de segurança que o país tem vivido.

ONU já advertiu para fluxo ilegal de armas na fronteira Há oito meses, militantes do Hezbollah e seus aliados pró-Síria estão acampados em volta do prédio do governo para exigir a renúncia do Premiê Fouad Siniora e a formação de um governo de unidade nacional.

Além disso, o presidente do Parlamento, Nabih Berri, também da oposição, paralisou as sessões do Legislativo. Dois políticos anti-Síria já foram mortos em atentados.

Desde maio, militantes radicais do Fatah al-Islam, acusados pelo governo de ser um braço da Síria e da rede terrorista Al Qaeda, combatem tropas do Exército libanês no norte do país, no campo de refugiados palestinos de Naher el-Bared.

Os confrontos já mataram mais de 230 pessoas e uma série de atentados dentro e ao redor de Beirute aumentaram o medo e as incertezas entre os libaneses.

As sucessivas crises políticas, o crescimento de grupos radicais e o fortalecimento militar do Hezbollah fizeram aumentar, também, o medo de uma nova guerra civil.

Na capital Beirute, lembrada sempre como uma cidade cosmopolita e pulsante, agora pouco se vê de vida noturna. As ruas seguidamente ficam desertas, especialmente quando há rumores de novos atentados ou discursos políticos mais hostis de ambos os lados.

A isso se somam velhos problemas, como o abastecimento de água e eletricidade, obrigando alguns bairros a ficarem sem abastecimento por horas.

A cidade, como o resto do país, vive numa constante pressão psicológica. Com este cenário, todos os dias jovens libaneses, que vêem seu país paralisado e com a economia cada vez mais frágil, abandonam o Líbano à procura de empregos e um futuro melhor em outros países.

Com informações da BBC Brasil