Agência EFE
URUGUAI - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou nesta terça-feira que o Governo brasileiro deveria ser mais firme e atuante na intermediação de conflitos no Mercosul, como a disputa entre Uruguai e Argentina sobre a construção de fábricas de celulose na fronteira entre os dois países.
- É difícil opinar em abstrato sobre o tema, e minha inclinação é de que o Brasil deve ajudar. É a nossa tradição, e o Governo está ali para ajudar. Por que o Governo brasileiro não interveio mais fortemente, eu não sei - criticou, numa conferência no Palácio Legislativo do Uruguai, sede do Parlamento.
FHC garantiu que, se ele estivesse conduzindo a política externa brasileira, teria intermediado nas tensões entre uruguaios e argentinos. Ele afirmou que estaria buscando uma solução dentro do espírito do Mercosul.
Na sua opinião, o Brasil deveria ter uma presença mais forte, uma vez que a solução deve surgir do Mercosul.
- É preciso desenvolver esta área e respeitar o meio ambiente simultaneamente, o que pode ser feito - disse, acrescentando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "tem mais informações" sobre o caso.
Durante a conferência "América Latina: Integração, Fragmentação ou Conflito?", o líder tucano lembrou que no passado havia uma impressão de que todos os povos da região se integrariam. - Agora, vemos que somos todos diferentes e que cada um procura seu caminho para se integrar ao mundo - comparou.
Na opinião de FHC, "os países estão mais diversificados que antes, há mais fragmentação e surgiram inconformidades com a globalização e a democracia". Para ele, o desafio atual "é tomar decisões que permitam uma melhor adaptação à internacionalização" e buscar, além disso, "um caminho realista".
Fernando Henrique Cardoso defendeu uma busca de formas de resolver os conflitos. Na sua opinião, é preciso um entendimento para a região, por sua importância continental.
Ele criticou ainda os bloqueios nas pontes entre cidades do Uruguai e da Argentina. "É um tremendo erro, para dizer o mínimo.
São países irmãos, são vizinhos. Não posso sequer compreender como isso pode acontecer", disse.
- Francamente, não vejo de que forma o Uruguai tenha ferido os fundamentos do espírito do Mercosul ou em que a construção prejudique os vizinhos - disse o ex-presidente à platéia uruguaia.
- Basta ler o Tratado de Montevidéu para ver que não se podem tomar decisões unilaterais em certas matérias, como está acontecendo - apontou.
A ponte General San Martín, entre Fray Bentos e Gualeyguachú, está fechada desde meados de novembro do ano passado. Ela é bloqueada por ambientalistas que protestam contra a construção da fábrica de celulose da finlandesa Botnia, na margem uruguaia.