Agência EFE
PEQUIM - O Exército de Libertação Popular da China, o maior do mundo, comemora seu 80º aniversário lembrando os momentos de glória como a Longa Marcha e vitórias contra as tropas do Japão e dos Estados Unidos, exatamente as que mais temem nesta terça-feira o progressivo rearmamento chinês.
Desfiles, exposições retrospectivas, jantares de gala com o líder militar -o presidente Hu Jintao - e moedas comemorativas fazem parte da agenda de comemorações do que em seus primeiros tempos foi chamado de 'Exército Vermelho', como o soviético.
Talvez o mais curioso do aniversário está sendo a grande quantidade de notícias divulgadas nos últimos dias na imprensa oficial sobre o Exército, que habitualmente guarda o mais absoluto silêncio sobre o que acontece em seu interior (exceto pelo muito alardeado programa espacial).
A agência 'Xinhua' e o jornal 'Diário do Povo' mostraram timidamente o interior das unidades. Pela primeira vez, a opinião pública soube que os soldados têm acesso à internet desde 2001, não podem usar celulares e podem se queixar via web de abusos de autoridade, entre outras coisas.
Um pouco de transparência também foi notada no fato de a imprensa estrangeira ter sido convidada na segunda-feira para conhecer um quartel nos arredores de Pequim onde os soldados mostraram sua perícia em artes marciais, armas de fogo e manejo da artilharia.
Ao mesmo tempo, os jornalistas chineses eram apresentados ao mais novo modelo de tanque do país, que conta com um equipamento de raios laser para atacar as vigias dos tanques inimigos e atingir os olhos dos artilheiros - um detalhe que em outras ocasiões jamais seria revelado à imprensa.
O Governo chinês aproveitou a ocasião para anunciar que os veteranos militares da Guerra da Coréia receberão um aumento nas aposentadorias, enquanto o presidente Hu, também chefe da poderosa Comissão Militar Central, agradecia os efetivos pela contribuição histórica.
Enquanto isso, o Museu Militar da China, localizado no oeste da avenida Changan - exatamente a área onde tanques e efetivos do Exército causaram os massacres de estudantes em 1989 -, preparou uma grande exposição sobre os 80 anos de história dos soldados comunistas chineses.
Réplicas de mísseis e da primeira bomba atômica chinesa, testada em 1964, são expostas juntamente com artefatos mais curiosos, como uma calculadora usada pelos cientistas que desenvolveram o programa atômico nacional e um saco de boxe que dizem ter sido usado por Mao Tsé-tung, um dos fundadores do Exército.
Hoje em dia, o maior Exército do mundo - que chegou a ter 6,5 milhões de soldados na Guerra da Coréia (1950-1953) - conta com cerca de 2,1 milhões de efetivos, 200 mil a menos que há dois anos, já que está em processo de modernização, procurando reduzir as tropas e aumentar a tecnologia.
O processo requer um grande aumento do Orçamento anual militar, acima de 15% (17% em 2007), mais até que o crescimento do PIB chinês, o que perturba os círculos militares de Japão e EUA.
Tóquio e Washington temem que Pequim, que tem cerca de 600 mísseis apontados para Taiwan - ou mil, segundo fontes taiuanesas -, rompa o equilíbrio de forças que existiu durante 60 anos entre o Exército Popular e as tropas nacionalistas do Kuomintang na 'ilha rebelde', ameaçando a estabilidade do Pacífico.
A China alega que sua despesa é dez vezes menor que a do Exército americano e ronda os US$ 45 bilhões, embora o Pentágono acredite que o número real seja de entre US$ 60 bilhões e US$ 90 bilhões, pois Pequim não inclui no Orçamento as grandes importações de armamento de países como a Rússia.
Enquanto isso, dentro do Exército de Libertação Popular as preocupações parecem ser outras, como a forma de distribuir milhares de uniformes para que a partir de quarta-feira os soldados chineses ostentem um novo visual.
A medida custará US$ 800 milhões em roupas mais adaptadas às guerras modernas e menos folgadas que as antigas.
A cúpula militar chinesa também desenvolve caças de última geração e de fabricação própria, os 'Jian-10', e dá continuidade aos projetos para o ansiosamente esperado porta-aviões, já que é um dos poucos grandes Exércitos do mundo que ainda não o têm.