Agência EFE
LAHORE - O presidente suspenso do Supremo Tribunal paquistanês, Iftikhar Chaudhry, discursou neste domingo em defesa da separação de poderes, em meio a uma crise no Judiciário a respeito da decisão do presidente, Pervez Musharraf, de afastar o juiz do cargo.
- Todas as instituições e os funcionários públicos estão ligados pela Constituição, que ordena a separação dos poderes Judiciário e Executivo e sua independência, disse Chaudhry.
O magistrado, liderando um comboio de cerca de 300 veículos, realizou neste fim de semana uma viagem de 22 horas de Islamabad à localidade de Faisalabad, na região paquistanesa do Punjab, percorrendo a distância de quase 290 quilômetros para discursar à comunidade jurídica.
No caminho, milhares de pessoas que apóiam o juiz se reuniram nas plataformas das estações da estrada para mostrar apoio, gritando a já popular frase 'Vai Musharraf, vai', que se transformou até em toque de celular.
O número de automóveis do comboio chegou a mil quando entrou em Faisalabad, às 7h (23h de sábado em Brasília). No local, advogados e militantes de oposição os receberam com bandeiras pretas, gritando palavras de ordem e lançando pétalas de rosas nas ruas.
Após sua suspensão, em 9 de março, sob a acusação de 'abuso de poder', Chaudhry iniciou uma campanha dupla para se defender: apresentou um recurso ao Supremo Tribunal e viajou por todo o país angariando apoio.
No entanto, em maio, uma de suas viagens deu origem a uma tragédia em Karachi, no sul do Paquistão, onde 34 pessoas morreram em choques entre os seus partidários e os de Musharraf.
- Vejo uma expressão comum entre a sociedade civil e pessoas da base para lutar pelo constitucionalismo e pela independência da Justiça, disse Chaudhry neste domingo, depois de chegar a Faisalabad.
- Ninguém poderá resistir ao desejo do povo, e a determinação dos membros da advocacia não pode ser suprimida. (Os membros da advocacia) ganharão, porque sua causa é nobre: estabelecer uma Justiça independente e permitir julgamentos justos, livres e imparciais são objetivos que valem a pena, acrescentou.
Os partidários do juiz vêem em sua suspensão uma tentativa de Musharraf de subjugar a Justiça, para que possa renovar seu poder presidencial e militar sem obstáculos. No entanto, o presidente paquistanês sempre negou ter diferenças pessoais com o juiz.
Este ano, Musharraf planeja sua reeleição como presidente e chefe do Exército, uma duplicidade de cargos que a oposição considera inconstitucional, mas que recebeu o apoio de altos funcionários americanos, que se reuniram este fim de semana com o presidente paquistanês.
- Acho que isso é algo que o próprio presidente Musharraf deve decidir, e é assunto dele, disse no sábado o subsecretário de Estado americano, John Negroponte. Sua declaração foi feita depois da reunião que teve com o governante paquistanês, e ao ser perguntado, em entrevista coletiva, sobre as ações deste como chefe do Exército.
Negroponte liderou um grupo de autoridades americanas formado também pelo subsecretário americano para a Ásia Central e do Sul, Richard Boucher, e pelo chefe do Comando Central do Exército dos Estados Unidos, William Fallom.
Mostrando seu lado mais moderado, Negroponte afirmou ter uma "forte amizade e confiança em relação ao Governo e ao povo do Paquistão'. No entanto, ao mesmo tempo, reuniu-se também com as forças da oposição, apesar de negar a existência de uma 'agenda oculta'.
As autoridades americanas se mostraram mais rígidas com a declaração de Boucher, reivindicando ao regime de Musharraf a realização de eleições gerais 'limpas e democráticas', para o que disse ser indispensável uma imprensa 'livre e vibrante'.
Além disso, o americano deixou claro que os EUA são 'amigos' do "povo do Paquistão', e não de 'uma só pessoa'.