Agência EFE
RAMALA - O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, anunciou que o novo Governo de emergência que encomendou ao até então ministro das Finanças, Salam Fayyad, tomará posse neste sábado na Muqata (sede presidencial), na localidade cisjordaniana de Ramala.
O número de ministros do novo Governo será de seis, mas a imprensa indica que serão doze pastas. Fayyad, designado por Abbas como chefe do Executivo - após o movimento islâmico Hamas ter tomado o controle da Faixa de Gaza -, ainda não deu declarações.
O anúncio presidencial não desfaz a incerteza dos palestinos, enquanto centenas de ativistas do Fatah estão chegando a Ramala fugindo de possíveis represálias dos islâmicos em Gaza.
Moradores dessa localidade informaram que extremistas do Hamas saquearam a residência do ex-presidente Yasser Arafat, histórico líder do Fatah, em Cidade de Gaza, próxima à sede do presidente Abbas, tomada na quinta-feira passada durante a ofensiva dos islâmicos.
- A invasão à casa de Abu Amr - como Arafat era conhecido - é uma profanação, uma loucura, disse o secretário-geral do Fatah na cidade cisjordaniana de Jenin, Ata Abu Rimela.
- Todos nos perguntamos como foi possível chegar a isso, acrescentou.
Fontes de segurança em Ramala informaram que pelo menos 500 palestinos, entre eles personalidades e militantes do Fatah, chegaram à cidade pelo território de Israel, cujo Exército abriu a passagem fronteiriça de Erez, no norte de Gaza.
Os órgãos de segurança de Abbas e seus aliados das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa prosseguiram neste sábado com uma operação para deter personalidades do Hamas na Cisjordânia, onde detiveram quatro em Nablus, reduto dos islâmicos.
Os milicianos das Brigadas de Al-Aqsa afirmaram aos jornalistas que, 'para cada morto nosso, morrerá outro do Hamas'.
Efetivos dessa milícia também tentavam chegar ao meio-dia aos escritórios dos deputados do Hamas no Parlamento palestino, e fontes de segurança informaram sobre o seqüestro do seu líder na câmara, Hassan Khreisha, representante do movimento islâmico.
Abu Obeida, porta-voz do braço armado do Hamas - as Brigadas de Ezzedin al-Qassam, que tomaram o poder em Gaza em 48 horas - advertiu ao Fatah que, se atacar seus militantes na Cisjordânia, "não permaneceremos de braços cruzados'.
Apesar de que Abbas ter dissolvido o Governo de unidade com o Hamas, o primeiro-ministro Ismail Haniyeh (do movimento islâmico) continua governando em Gaza, quanto na Cisjordânia se aguardava a posse de Fayyad com o apoio da comunidade internacional e de Israel.
Entre as personalidades do Fatah refugiadas no hotel Grand Park em Ramala, estão o 'inimigo número um' do Hamas, o coronel da reserva Mohammed Dahlan, e seus próximos Samir al-Musharaui e o coronel Rashid Shabak, chefe do Serviço de Segurança Preventiva (Polícia secreta), cujo quartel foi tomado pelo Hamas.
Fontes nacionalistas do Fatah, citadas hoje pelo jornal árabe "Al-Quds al-Arabiya' de Londres, exigem processar os três por abandonar a Faixa de Gaza devido aos confrontos com o Hamas, que deixaram esta semana mais de 100 mortos e centenas de feridos.
Além disso, informa sobre um suposto plano de Dahlan, antes "homem forte' de Gaza, para restabelecer a segurança e a ordem.
O líder máximo do Hamas, Khaled Meshaal, exilado na Síria, expressou nesta sexta-feira à noite à imprensa que seu braço armado "não quis tomar o poder, (pois) somos leais ao povo palestino'.
- Abbas é legítimo, ninguém pode colocá-lo em dúvida; é o presidente eleito e cooperaremos com ele em prol do interesse nacional, mas o Governo de emergência que encomendou a Fayyad 'é ilegal', acrescentou Meshaal, sem propor uma saída para a grave crise política.
Um auxiliar do presidente, que pediu para não ser identificado, disse aos jornalistas em frente à Muqata que não negociarão 'com assassinos'.
Enquanto isso, cresce a preocupação sobre um desastre humanitário devido ao isolamento absoluto de Gaza, que recebe 50% de seus suprimentos do exterior.
Haniyeh pediu também que os militantes islâmicos parem o roubo das casas dos altos comandantes do Fatah que fugiram para Ramala.