Agência EFE
LONDRES - Os fortes ataques à imprensa lançados na terça-feira pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, que comparou os órgãos de comunicação a 'animais ferozes', provocou nesta quarta-feira as críticas de diretores de jornais.
Em suas críticas, Blair citou o jornal 'The Independent', cujo diretor, Simon Kelner, acusa nesta quarta-feira o líder trabalhista e seu Governo de 'há dez anos' tentar manipular a opinião pública. O artigo publicado na primeira página denuncia 'falsas informações' e "dossiês enganosos'.
Para Kelner, o que mais 'irritou' o líder trabalhista foi a oposição de seu jornal à Guerra do Iraque, principal motivo da queda de popularidade do primeiro-ministro.
Para o diretor da revista conservadora 'The Spectator', Matthew d'Ancona, 'o Novo Trabalhismo estava alegremente dançando o tango'
com a imprensa. Até que 'algo deu errado": a publicação dos dossiês sobre o Iraque e a investigação das circunstâncias do suicídio do cientista David Kelly, que acusou o Governo de ter exagerado a ameaça das supostas armas de destruição de Saddam Hussein.
Segundo Peter Horroks, diretor dos noticiários da rede 'BBC', "Blair diz que os governantes se sentem incomodados pelos meios de comunicação, que responsabiliza pela situação, mas é preciso se perguntar se esses líderes podem decidir até que ponto devem ser incomodados'.
John Kampfner, diretor da revista semanal de esquerda 'New Statesman', acusa Blair de ter errado totalmente em sua análise.
- Por causa da Guerra do Iraque, a maioria da imprensa britânica engoliu as falsas informações fornecidas pelo então diretor de comunicações, Alistair Campbell, lembrou.
- A mentalidade de rebanho criticada por Blair levou na maioria dos casos à submissão dos meios de comunicação e não a um jornalismo crítico, critica Kampfner, citado pelo jornal 'The Times'.
Piers Morgan, ex-diretor do tablóide 'Daily Mirror', confessou que não se importava com a caracterização de 'animal feroz'.
- Nada me diverte mais que os ataques de Tony Blair a uma imprensa que antes ele cortejava com um entusiasmo raras vezes visto nos tempos modernos, ironizou.
Para o diretor do 'Daily Express', Peter Hill, a acusação foi resultado de 'uma raiva passageira de Blair, que agora critica os jornalistas porque eles descobriram suas manipulações'.
Em seu discurso na sede da agência de notícias 'Reuters' em Londres, Blair acusou a imprensa de privilegiar as notícias escandalosas e polêmicas, atuar com mentalidade de rebanho e não distinguir suficientemente entre informação e opinião.
O líder trabalhista mencionou concretamente o jornal de esquerda "The Independent', que considerou 'um símbolo' desse tipo de jornalismo, que cria opinião em lugar de informar.