Agência EFE
WASHINGTON - O Senado dos Estados Unidos deu nesta quinta-feira um duro golpe nos esforços do presidente George W. Bush para reformar o sistema migratório do país, ao rejeitar uma moção para encerrar o debate e passar à votação do projeto de lei em seu conjunto.
Para que o projeto fosse levado à votação, seriam necessários 60 votos a favor da moção. Na primeira sessão, pela manhã, ela havia sido rejeitada por 63 a 33.
Na segunda sessão, à noite, a moção recebeu a maioria dos votos dos senadores (50 a 45), mas o total ainda ficou abaixo dos 60 necessários para levar o projeto à votação.
A rejeição ao limite de 30 horas para o debate significa que a proposta de reforma poderá receber emenda após emenda. Assim, a discussão será interminável, sem possibilidades de aprovação este ano, disseram fontes legislativas.
Diante do panorama, o líder da maioria democrata, Harry Reid, anunciou que retiraria o projeto para destravar a pauta e permitir que o Senado vote outros temas.
A bancada de legisladores hispânicos do Congresso (caucus) mostrou decepção.
No entanto, Baca, líder do grupo, informou que a bancada hispânica vai continuar administrando a reforma para garantir que as famílias que buscam uma vida melhor não sejam separadas por uma questão política.
- A luta não terminou. Continuaremos lutando por algo que achamos correto e necessário. Continuaremos defendendo uma reforma migratória integral - disse Luis Gutiérrez, presidente do grupo de trabalho da bancada hispânica.
Alguns detratores do projeto avisaram que tinham a intenção de apresentar novas emendas e que não deixariam o debate terminar.
O projeto de lei migratória, pactuado em maio entre os dois partidos, conta com o respaldo de republicanos e democratas, assim como com o da Casa Branca.
Mas os setores mais liberais e mais conservadores se opõem a ele, os primeiros por considerar que é muito morno e os segundos ao opinar que equivale a uma anistia para os cerca de 12 milhões de imigrantes ilegais que se calcula vivam nos Estados Unidos.
Em declarações após a votação desta manhã, o líder da minoria republicana, Mitch McConnell, afirmou que seu partido precisa de mais tempo para trabalhar no projeto de lei e introduzir mais emendas.
- Apressar o processo não beneficia ninguém e põe em risco o frágil compromisso que ambas as partes trabalharam duramente para conseguir - afirmou McConnell.
Já esta madrugada, no entanto, o projeto de lei tinha recebido um duro golpe quando os legisladores aprovaram por uma margem estreita, de 49 votos contra 48, uma emenda que limita a apenas cinco anos a vigência de um programa de trabalhadores temporários.
Esse programa, que concedia permissões de trabalho de dois anos renováveis até um máximo de seis, embora com a obrigatoriedade de retornar ao país de origem durante um ano para cada renovação, era uma das inovações e o ponto principal do pacto migratório.
Sua limitação - que chega após o Senado ter reduzido há duas semanas seu alcance a somente 200 mil trabalhadores, frente aos 400 mil anuais propostos originalmente - representa um duro golpe para os defensores do projeto de lei.
Os legisladores aprovaram também duas emendas sobre o idioma inglês.
A primeira, apresentada pelo senador republicano James Inhofe, faz do inglês a língua oficial dos Estados Unidos, impedindo que quem deseje receber comunicações oficiais em outro idioma o consiga.
A segunda, do senador democrata Ken Salazar, estipula que o inglês é o idioma comum nos Estados Unidos, mas diz que quem desejar terá direito a receber comunicações oficiais em outra língua.
Se o projeto de lei for aprovado os legisladores terão que conciliar as emendas numa etapa posterior.
O plano debatido no Senado previa um caminho para legalizar os cerca de 12 milhões de imigrantes ilegais que se calcula vivam nos EUA, que poderiam obter um visto especial, o Z, se estivessem em dia com os impostos atrasados e pagassem uma multa.
Além disso, o chefe de família teria que retornar a seu país de origem em um prazo de oito anos para tramitar a residência permanente.
O projeto de lei também altera o sistema para outorgar permissões de residência nos EUA, que passa a dar preferência à educação e ao domínio do idioma que aos laços familiares, como ocorria até agora.