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AMSTERDÃ - Soldados holandeses violaram os direitos humanos de iraquianos em 2003, quando detiveram cerca de 90 pessoas sem água ou comida durante um dia inteiro, disse um policial militar durante a investigação, segundo relato do jornal Volkskrant na sexta-feira.
A polícia, disse o jornal, teria feito as acusações a uma comissão independente que investiga possíveis abusos contra prisioneiros iraquianos.
O Ministério da Defesa encomendou o inquérito em novembro, depois que o Volkskrant noticiou que agentes holandeses de inteligência militar haviam cometido abusos contra prisioneiros em 2003 ao jogar jatos de água contra eles para mantê-los acordados e expô-los a luz ofuscante.
- A polícia militar relatou 'violações dos direitos humanos' por marinheiros no sul do Iraque à comissão investigativa, disse o jornal.
Porta-vozes da comissão e do Ministério da Defesa disseram que só comentariam o caso depois da publicação do inquérito, provavelmente até meados de junho. A polícia militar holandesa não se pronunciou.
Soldados holandeses detiveram mais de 90 suspeitos em outubro de 2003 na cidade iraquiana de Samawa durante uma operação para impedir a venda de armas, segundo o jornal, que disse ter mais de 200 fotos da operação -- da qual uma foi publicada.
Alguns suspeitos estavam algemados com tanta força que a circulação sanguínea em suas mãos parou, segundo a reportagem.
Um agente da polícia militar disse à comissão que o tratamento aos suspeitos violou as regras de guerra, de acordo com o jornal. As tropas holandesas chegaram ao Iraque em agosto de 2003, meses depois da invasão liderada pelos norte-americanos que depôs Saddam Hussein, e se retiraram dois anos depois.
Na terça-feira, um programa da TV holandesa disse, citando trechos do relatório da comissão de investigação, que três agentes holandeses de inteligência militar teriam violado as regras de interrogatórios em 2003, ao questionarem prisioneiros no Iraque.
Henk Kamp, ex-ministro de Defesa do país, disse que em outubro de 2003 15 suspeitos foram interrogados pela inteligência militar e por agentes de segurança, mas que não foram adotadas medidas punitivas.
A comissão independente foi criada a poucos dias da eleição nacional de 22 de novembro, em que os democrata-cristãos se mantiveram no poder.
Alguns políticos holandeses traçaram paralelos entre esse caso e os abusos cometidos por militares dos EUA na prisão de Abu Ghraib. O comportamento de tropas alemãs e britânicas no Afeganistão e no Iraque também já foi alvo de escândalos.