Agência EFE
GENEBRA - A Organização das Nações Unidas (ONU) denunciou nesta sexta-feira a intervenção das forças de segurança do Sudão em ataques contra civis em Darfur (oeste do país) que provocaram desde janeiro mais de cem mortos, milhares de deslocados e a pilhagem e destruição de várias comunidades.
O último e mais grave desses ataques aconteceu no dia 31 de março e causou a morte de 60 pessoas, mas 'até o momento o Governo (sudanês) não tomou medidas efetivas para evitá-los ou levar os responsáveis à Justiça', lamentou em Genebra um porta-voz do alto comissário da ONU para os Direitos Humanos.
O órgão divulgou nesta sexta-feira seu último relatório sobre a situação dos direitos humanos no Sudão, no qual explica que esses fatos de violência têm relação direta com uma disputa por terras entre os grupos tribais árabes Tarjum e Rizeigat, assentados no sul de Darfur.
O documento detalha a participação de uma força de inteligência responsável de vigiar a fronteira, que apoiou os Rizeigat em seus confrontos contra os Tarjum, segundo testemunhos 'extremamente críveis' de testemunhas.
Segundo todas as declarações colhidas pelo alto comissário da ONU, 'os agressores eram centenas de homens fortemente armados, muitos deles identificados como guardas de inteligência fronteiriça'
e que utilizaram veículos dessa unidade.
Baseando-se no relatório, o porta-voz do Alto Comissariado, Yvon Edoumou, sustentou que em todos os casos reportados os ataques foram iniciados nos arredores dos povoados com armamento pesado e lança-granadas.
Depois, os agressores entraram nas comunidades e dispararam à queima-roupa contra os homens que encontravam pela frente, de modo que todos os povoados foram 'sistematicamente saqueados e incendiados', assinalou o porta-voz.
O relatório do Alto Comissariado denuncia 'a impunidade desses crimes', o que 'constitui uma violação do direito internacional por parte do Governo sudanês'.
- Esta não é a primeira disputa entre membros desses grupos, mas é particularmente chocante a intensidade dos combates, o grande número de vítimas e, em particular, a participação de pessoal, armas e veículos das forças de segurança do Sudão - acrescenta.
Diante dos fatos, a alta comissária da ONU, Louise Arbour, exigiu que o Sudão cumpra com sua responsabilidade de proteger os civis, de oferecer reparação pelos danos sofridos e, sobretudo, de realizar uma investigação independente para impor sanções aos responsáveis.
Edoumou indicou que as autoridades de Cartum tomaram conhecimento do conteúdo e as recomendações do relatório, 'mas por enquanto não realizaram nenhum comentário'.
Sobre a vontade do Governo sudanês de investigar esses fatos de maneira independente, como reivindica a ONU, o porta-voz assinalou que o 'Sudão deve realizar seu maior esforço para organizar as indagações, mas se não contar com os meios para tal pode recorrer à ajuda internacional'.