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Governo argentino diz que "perdeu invencibilidade" contra corrupção

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Agência AFP

BUENOS AIRES - O Governo argentino admitiu nesta quinta-feira que "perdeu a invencibilidade em matéria de corrupção", mas ressaltou que "não se fará de bobo" diante das suspeitas de irregularidades como as que levaram à exoneração de duas autoridades envolvidas em subornos da construtora sueca Skanska.

- Fizemos o que dissemos que faríamos - ressaltou o chefe de gabinete do Governo, Alberto Fernández, respondendo a críticas.

A oposição lembrou que, 15 dias atrás, Néstor Kirchner considerava o caso Skanska como "um ato de corrupção entre particulares".

Fernández destacou a decisão de exonerar o diretor da Agência Nacional Reguladora do Gás (Enargas), Fulvio Madaro, e o gerente de Fideicomissos do estatal Banco Nación, Néstor Ulloa, "ao menor indício" de estarem envolvidos no suposto pagamento de propinas na construção de gasodutos.

Madaro e Ulloa foram demitidos ontem à noite por um decreto de Kirchner.

Antes, um procurador informou ao Ministério do Interior que havia provas do envolvimento de ambos no caso Skanska, investigado por dois juízes por crimes diferentes.

Os dois também foram chamados a depor como acusados no processo conduzido pelo juiz Guillermo Montenegro por pagamentos de subornos de Skanska, uma das empresas concessionárias de obras de ampliação de gasodutos financiadas com fideicomissos, assunto que também envolve o grupo ítalo-argentino Techint.

- Uma leitura objetiva é que o Governo perdeu a invencibilidade em matéria de corrupção - reconheceu o chefe do gabinete à rádio La Red de Buenos Aires.

Kircnher "sempre mostrou as mãos e se é verdade o que suspeitam o procurador e o juiz, dentro do Governo também haveria corrupção.

Portanto, muda uma concepção ou uma imagem que havia ou que pode haver por parte da sociedade deste Governo", disse Alberto Fernández "Esta é uma leitura política e de alguma maneira compartilho dela", acrescentou.

Fernández ressaltou que "não houve nenhuma mudança de discurso" no Governo e insistiu que foi feito "o que se disse que ia ser feito" diante das suspeitas de corrupção de autoridades.

O deputado Federico Pinedo, da conservadora Proposta Republicana, de oposição, afirmou hoje que o Governo "mudou o discurso" para se distanciar do caso Skanska, faltando cinco meses para as eleições presidenciais.

Para Eduardo Macaluse, líder de bancada da Afirmação para República Igualitária, de centro-esquerda, a reação do Governo "foi tardia". Ele sugeriu que se investigue "mais para cima", numa referência ao Ministério do Planejamento, ao qual eram submetidos os exonerados.

- Estão se livrando de um peso, porque o caso Skanska se tornou insustentável - assegurou Macaluse.

O deputado insistiu que é preciso "maior transparência" do ministro do Planejamento, Julio de Vido, um dos mais próximos a Kirchner.

Enquanto isso, o ministro do Interior, Aníbal Fernández, afirmou que De Vido não se encontra "em nenhuma situação particular" por este assunto.

Disse que De Vido "é um funcionário de primeiro nível e tem que tomar as decisões correspondentes. Neste país se cometeram desmandos ferozes quando as autoridades se ampararam em seus cargos" ao serem suspeitos de corrupção.

Na semana passada, seis ex-diretores da Skanska passaram um dia presos e foram interrogados pelo juiz Javier López Biscayart, que investiga uma sonegação milionária.

Eles tinham sido despedidos no ano passado, quando a construtora sueca detectou irregularidades na filial argentina.

A matriz da Skanska reconheceu que sonegou impostos, cancelou sua dívida com o Fisco argentino e ainda admitiu que pagou "comissões indevidas" (calcula-se entre US$ 4,1 e 5,4 milhões) para licitar obras de gasodutos, entre elas as da Transportadora de Gás do Norte, da qual participa a Techint.

Para o deputado Carlos Kunkel, da tendência "Frente para a Vitória" do Partido Justicialista (peronista), liderada por Kirchner, "a bola está em outro campo" depois que o Governo "fez o que tinha de fazer".

- Esperamos que o grupo Techint também esclareça qual é a situação dos funcionários deles que foram os que pagaram as propinas, porque o crime tem dois atores e participantes necessários e têm que ser igualmente punidos - ressaltou.