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LONDRES - Uma década atrás, o mais jovem primeiro-ministro da história da Grã-Bretanha em quase 200 anos subiu ao poder como uma estrela do rock, à frente de uma onda de euforia que se espalhava por todo o país.
Três eleições mais tarde, a maior parte dos conterrâneos de Tony Blair já se dizem cansados dele. Soldados enviados para guerras estão morrendo em terras distantes por motivos agora difíceis de explicar. Adversários políticos antes derrotados facilmente estão voltando fortalecidos. É em meio a esse cenário que o primeiro-ministro britânico resolve pedir demissão do cargo a partir de junho.
Blair, no entanto, ainda mantém um certo ar de presunção, lembrando o clima de otimismo que o lançou no cargo, em maio de 1997, mês em que liderou o Partido Trabalhista rumo à conquista de uma arrasadora vitória, após ficar 18 anos fora do poder.
Àquela época, o tablóide direitista The Sun - que havia dado apoio anteriormente a rivais conservadores de Blair - afirmou que ele "estimulou a imaginação do país. Capturou a atenção de todos para lançar um novo começo e provocou uma revolução de expectativas cada vez maiores".
Blair tinha filhos pequenos. O ônibus de campanha dele estampava a frase: "As coisas podem apenas melhorar". Ele havia tocado guitarra em uma banda de rock.
Ele livrou de suas raízes fincadas na luta de classes um dos partidos socialistas mais antigos da Europa e aboliu um artigo dos estatutos da legenda defendendo a "propriedade comum dos meios de produção".
Poucos meses depois de assumir o cargo, Blair serviu-se de seus poderes midiáticos para unir o país depois da estranha e traumatizante morte da princesa Diana. Ele a descreveu como a "princesa do povo" e pronunciou-se com uma sinceridade perfeita.
No Parlamento, Blair derrotou vários líderes do Partido Conservador com uma habilidade inata para o debate. Ele disse aos trabalhistas que as qualidades dele lhes havia rendido poder - ele exigia lealdade em troca.
POLÍTICA INTERNA E EXTERNA
Blair subiu ao poder com uma ambiciosa agenda para as questões de política interna. O premiê e seu aliado e eventual sucessor, Gordon Brown (ministro das Finanças), aumentaram os gastos públicos com setores como os da saúde e educação, ao mesmo tempo em que enfrentaram os sindicatos para impor reformas.
Blair e Brown permitiram ao Banco da Inglaterra fixar de forma autônoma as taxas de juros, conquistando assim confiança do mercado.
A Grã-Bretanha embarcou então em seu mais longo período de crescimento econômico desde que criou o capitalismo industrial, dois séculos atrás. O preço dos imóveis quadruplicou. O desemprego diminuiu. As listas de espera em hospitais encolheram.
Mas, quando os historiadores falarem sobre Blair, a agenda doméstica dele deverá ficar em segundo plano, perdendo espaço para as questões de política externa. Acima de tudo, o premiê será julgado por sua decisão de dar apoio ao presidente dos EUA, George W. Bush, na invasão do Iraque.
Blair tomou posse depois de o Ocidente não ter conseguido impedir o derramamento de sangue nos Bálcãs e em Ruanda. E acalentava a forte convicção de que cabia à Grã-Bretanha agir de forma decisiva no cenário internacional.
Depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, o premiê afirmou estar "lado a lado" com os EUA e atrelou seu futuro ao do novo líder daquele país, Bush.
Mas o direitista Bush seria largamente ridicularizado na Grã-Bretanha. E cartunistas desenhavam Blair como o "poodle" de Bush.
Quando ficou claro que Blair pretendia unir-se a Bush na guerra contra o Iraque, centenas de milhares de britânicos foram às ruas protestar.
O premiê resistiu às pressões e enviou 45 mil soldados ao território iraquiano, realizando a maior mobilização militar da Grã-Bretanha nos últimos 50 anos. Ele justificou a guerra afirmando que o Iraque possuía armas ilegais. Mas, como se descobriu mais tarde, essas armas não existiam.