Agência EFE
WASHINGTON - O presidente americano, George W. Bush, deixou claro hoje que não aceitará as condições que os democratas tentam impor para a condução da Guerra do Iraque, em meio a uma batalha política que parece não ter fim. Em breves declarações à imprensa antes de partir para Nova York, o chefe de Estado americano disse que se sente 'decepcionado' com a atitude dos democratas, que dominam o Congresso. Eles insistem em reivindicar um cronograma para a retirada paulatina das tropas americanas posicionadas no Iraque.
O texto final do projeto de lei de despesas - concluído ontem à noite pelos legisladores, e que deve ser votado, no máximo, na sexta-feira - 'ata as mãos dos militares, acrescenta milhões de dólares em despesas não relacionadas à guerra e estabelece uma data para a retirada das tropas', afirmou. Ao reiterar sua ameaça de veto, Bush acusou os democratas de politizar a guerra e disse que aceitar o projeto de lei 'seria aceitar uma política que, ingenuamente, contradiz o julgamento' dos comandantes militares.
A evolução da guerra na nação árabe, onde a violência continua e cresce, incentivou o debate nacional sobre qual é a melhor estratégia de saída e como a efetuar sem piorar a instabilidade na região. O resultado é uma batalha de poderes entre o Congresso, que controla os fundos, e o Executivo, que tem a autoridade constitucional para a condução da guerra, em um momento no qual os políticos têm em vista as eleições de 2008.
A oposição, antes acusada por Bush de ser 'antipatriota' por criticar a guerra, quis destacar, diante da opinião pública, que o conflito armado só aumentou o número de baixas americanas e iraquianas e desgastou a imagem dos Estados Unidos no mundo. No entanto, em declaração de seis minutos, o chefe da Casa Branca disse que uma retirada apressada das tropas 'não é um plano para a paz'. Ao contrário, permitiria que os terroristas encontrassem refúgio no Iraque e 'suscitaria o caos' em toda a região.
O acordo alcançado na noite de ontem, que contempla cerca de US$ 124 bilhões - incluídos US$ 90 mil para as despesas militares no Iraque e no Afeganistão -, estabelece que a retirada deve começar no dia primeiro de outubro e estar concluída seis meses depois. O líder da maioria democrata do Senado, Harry Reid, insistiu que o Governo Bush não quer ouvir a verdade sobre o 'fracasso' da aventura americana no país árabe.
- O presidente, aparentemente, permanece em um perigoso estado de negação sobre a situação no Iraque e seu impacto em nossa segurança em casa - declarou Reid em comunicado, em resposta à nova advertência de Bush.
Ele acrescentou que o Congresso quer entregar ao presidente um projeto de lei que forneça os fundos militares de que necessita para a guerra e também 'um final responsável' para uma disputa que tirou a vida de mais de 3.200 soldados americanos. Reid vende a proposta democrata como uma fórmula para instrumentalizar uma estratégia que funcione. Ele disse que uma retirada das tropas obrigaria o Governo iraquiano a cumprir uma série de metas para a estabilidade política.
Entretanto, Bush e alguns grupos conservadores afins não compartilham esta idéia, pois acham que a saída dos soldados do Iraque envia uma mensagem errada ao inimigo, e, pior ainda, só garantiria a expansão do caos.
- Há muitas perguntas sobre as conseqüências de uma retirada e a reação do inimigo que não receberam apuração suficiente. O inimigo não vai distinguir entre tropas de combate e treinadores militares - afirmou à agência Efe Thomas Donnelly, analista de segurança nacional do American Enterprise Institute.
- Os democratas não têm os votos para superar um veto presidencial, não há respostas claras. Enquanto isto, os iraquianos estão pagando um preço muito alto por nossa incapacidade de vencer a guerra - declarou.
Donnelly fez referência, entre outras coisas, ao pesadelo logístico que representa a retirada dos 155 mil soldados no Iraque, com todo o armamento acumulado ao longo de quatro anos de ocupação. Segundo uma pesquisa recente da 'ABC News' e do 'Washington Post', a maior parte dos americanos acredita que os EUA perderão a Guerra do Iraque, mas, ao mesmo tempo, estão muito divididos sobre se uma retirada é ou não aconselhável.