Agência EFE
PARIS - A um mês do primeiro turno das eleições presidenciais francesas, o candidato conservador, Nicolas Sarkozy, recebeu nesta quarta-feira o apoio do presidente, Jacques Chirac, um respaldo fraco e ambíguo para quem defende a 'ruptura'.
O anúncio, esperado desde que Chirac confirmou, há 10 dias, que não se candidataria a um terceiro mandato, levou os principais rivais de Sarkozy a qualificá-lo como 'o herdeiro'.
Em declaração de dois minutos à TV e sem entusiasmo, Chirac disse que, como o seu partido, União por um Movimento Popular (UMP), escolheu Sarkozy, presidente da formação, como seu candidato presidencial por suas 'qualidades'.
Também anunciou que Sarkozy deixará o cargo de ministro na segunda-feira para se dedicar 'totalmente' à campanha.
Calcula-se que o substituto de Sarkozy no Ministério do Interior seja o atual ministro de Ultramar e seguidor fiel de Chirac, François Baroin. A mudança geraria uma 'mini-remodelação' do Governo, já que o ministro da Saúde, Xavier Bertrand, também sairia para se concentrar no seu papel de porta-voz da campanha de Sarkozy.
Em sua lacônica reação por escrito à declaração de Chirac, Sarkozy afirmou que o apoio é 'importante, política e pessoalmente', e que tem um 'grande significado político', porque vem de quem 'foi presidente da República durante 12 anos e conhece melhor que ninguém as exigências do cargo'.
Anunciada discretamente e de maneira combinada com Sarkozy, a declaração de Chirac é, de certo modo, uma conclusão de anos de relações tumultuosas e complicadas entre os dois políticos, muito parecidos, mas de gerações diferentes.
Sarkozy, que chegou à política pelas mãos de Chirac em 1975 e se tornou íntimo da família, passou a ser 'o traidor' por apoiar seu rival Edouard Balladur nas eleições de 1995.
Nos últimos cinco anos, as relações foram marcadas por fortes tensões, cujo ponto alto talvez tenha sido em 2004, quando com um "eu decido, ele executa', Chirac ordenou a Sarkozy que escolhesse entre seu cargo ministerial ou a Presidência da UMP.
Sarkozy conquistou a liderança do partido e, após o 'não' dos franceses no plebiscito pela Constituição européia, em maio de 2005, Chirac o convidou mais uma vez para formar o Governo como número dois.
O apoio concedido por Chirac era necessário para Sarkozy mostrar a 'unidade' de sua formação política como base de sua candidatura, mas é também um fator complicado e controverso para quem reivindica a ruptura - ainda que 'tranqüila' -, e agora deve assumir pelo menos parte do legado de Chirac.
No entanto, Sarkozy voltou a repudiar a herança de Chirac ontem à noite em um comício, ao assegurar que, se for eleito, não "descumprirá suas promessas', em uma clara alusão a seu ex-mentor.
O presidente francês mistura críticas veladas e advertências a Sarkozy nos prólogos de duas coletâneas de discursos sobre política interna e internacional que serão publicadas sexta-feira.
Alguns filiados do UMP comemoraram o apoio pouco convicto do presidente ao candidato, que lembra o igualmente frio respaldo de seu antecessor, o socialista François Mitterrand, ao candidato presidencial de seu partido, Lionel Jospin, em 1995.
Um caloroso apoio de Chirac teria sido forte demais, argumentam.
Isso não impediu os principais oponentes de Sarkozy, líderes nas pesquisas, de ironizar a situação.
- O fato de a UMP apoiar a UMP me parece coerente - afirmou a candidata socialista ao Palácio do Eliseu, Ségolène Royal, que "nunca' duvidou que Chirac fosse apoiar Sarkozy.
Um porta-voz do candidato moderado, François Bayrou, disse que "não há surpresa', e fez críticas sutis:
- Não é exatamente a ruptura de que falava.
Quarto lugar nas pesquisas, o político de extrema direita Jean-Marie Le Pen considerou o apoio de Chirac a confirmação de que Sarkozy é seu sucessor natural e deverá assumir esse lugar na campanha. O líder de direita Philippe de Villiers chamou Sarkozy de "clone' de Chirac.