Agência ANSA
SANTIAGO - EX-GENERAL CHILENO INSISTE EM PARTICIPAÇÃO DA CIA NO CASO PRATS
O ex-general Manuel Contreras, que foi chefe máximo da extinta Direção de Inteligência Nacional (Dina), polícia repressiva da ditadura militar no Chile, insistiu nos tribunais que o assassinato do ex-chefe do Exército, Carlos Prats, foi elaborado intelectual e materialmente pela CIA (agência de inteligência americana), que se preocupava com uma possível aliança entre o presidente argentino Juan Domingo Perón e o militar chileno.
O argumento do ex-general faz parte da justificativa que sua defesa apresentou depois das acusações do juiz Alejandro Solís, que deu um prazo de seis dias, o qual termina nesta terça-feira, para o advogado Fidel Reyes responder ao processo. Caso contrário, uma sanção disciplinar de quatro meses de suspensão da profissão poderia ser aplicada.
Nas 50 páginas da justificativa, publicada hoje pelo site do jornal 'El Mostrador', Reyes reitera que o ex-agente da Dina e da Cia, o americano Michael Townley, é o único autor do assassinato.
- Michael Vernon Townley é o assassino confesso de don Carlos Prats González e sua companheira Sofía Cuthbert. Mesmo assim, ele não foi julgado e nem foi privado de liberdade. Qual é a razão para que isso ocorra? Sem dúvida, o pacto entre a justiça americana que protege um assassino como Townley, em troca de que conte as verdades necessárias para liberar os Estados Unidos de suas responsabilidades, e para que os membros da Dina sejam condenados - apontou Reyes na apresentação.
O ex-general ainda acrescentou que era a agência de inteligência americana e não a Dina que tinha interesse em assassinar o general Prats, por causa da possibilidade de uma aliança com o general argentino Juan Domingo Perón para chegar ao poder.
- A tese sustentada por meu mandante, que não foi investigada pelo tribunal, pois nenhuma diligência foi feita nesse sentido, consiste no fato de que a CIA considerava perigosa a aliança Perón-Prats, pois o ex-chefe do Exército era apoiado por armas e elementos humanos, para tomar o poder. Tudo isso, desencadearia uma reação em cadeia: a intervenção do Peru e da Bolívia a favor da Argentina; e do Equador e do Brasil a favor do Chile, o que acabaria com a ordem mantida pelos Estados Unidos na América Latina - defendeu.
- Essa tese foi amplamente desenvolvida e documentada nesse processo, sem ser considerada como via de investigação por esse tribunal, desenvolvendo apenas a possibilidade de autoria da Dina e constatando ausência de antecedentes - acrescentou.
O casal Prats morreu quando uma bomba explodiu no veículo em que estavam, em Buenos Aires, no dia 30 de setembro de 1974, dois meses depois que Perón morreu, no dia 1º de julho.
Prats, ex-vice-presidente da República durante o governo de Salvador Allende, renunciou a seu cargo em agosto de 1973, recomendando como seu substituto Augusto Pinochet, que depois disso deu o golpe de Estado e iniciou uma ditadura que durou 17 anos.