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BAGDÁ - No quarto aniversário da invasão americana do Iraque, a maioria do povo ainda espera que os Estados Unidos cumpram as promessas feitas de que a intervenção militar serviria para reconstruir o país. São muitos os convencidos de que os compromissos de Washington de implantar um regime democrático e restabelecer os serviços básicos só representam uma desculpa para realizar seus planos políticos no Iraque.
- Os iraquianos têm hoje a percepção que perderam em vão quatro anos de suas vidas, cheios de fatos trágicos, e desejam que o futuro se encarregue de apagá-los de suas memórias - disse o jornalista iraquiano Nouri al-Zaher.
Para ele, isso só acontecerá 'quando o Governo iraquiano conseguir impor a segurança, reativar a marcha da reconstrução e acabar com a presença militar estrangeira'. Segundo sua opinião, para os iraquianos nada foi cumprido nos últimos quatro anos, após a derrocada do regime do presidente iraquiano, Saddam Hussein, 'salvo coisas irrelevantes que não compensam os sacrifícios feitos pelos habitantes do Iraque'.
- De que êxito pode se vangloriar nosso Governo e as tropas norte-americanas? Eu acho que o executivo ignora como essas forças atuam nas ruas e em suas batidas e inspeções - afirmou Zaher.
A mesma amargura é expressada pelo funcionário Emar Salem, ao sustentar que 'com toda segurança as forças de ocupação estão por trás de todas as tragédias que aconteceram desde que entraram no país e destruíram suas instituições com fracos pretextos'. Lembrou que 'antes (da invasão) nós não tínhamos conhecimento de seqüestros e violência religiosa (entre xiitas e sunitas) porque o povo iraquiano vivia em paz, unido e coeso'. Em relação à 'classe política que chegou com a ocupação', Salem considerou que 'ela ainda atua como se estivesse na oposição (a Saddam) já que está imersa em disputas pelo poder e pelos recursos naturais, por isso que deixaram o país afundar nesses problemas infinitos.'
Uma professora de escola identificada como Um Abdul Salam, afirmou:
- Mentiram para nós, por isso que pagamos com nosso sangue e estabilidade (do Iraque) o preço dessas mentiras. Onde está o cumprimento de suas promessas de reconstrução, a distribuição justa das riquezas e o respeito aos direitos humanos?
Lembrou com tristeza que seu esposo perdeu a vida na explosão de um carro-bomba no ano passado.
- Por isso, agora não consigo manter sozinha minha família, já que tenho quatro filhos para alimentar. A ocupação me privou da tranqüilidade e da estabilidade familiar - afirmou.
A professora disse que durante o inverno, devido à falta de gás, foi obrigada a destruir seus móveis para fazer fogo, para que ela e os filhos não morressem de frio. Pessimista e descontente, Hadi Ahmed - ex-detento da prisão Boka, administrada pelo Exército americano no sul do Iraque - afirmou que "quem lida diretamente com um soldado americano sente que ele chegou ao país para se vingar e não para ajudar o povo iraquiano".
Lembrou que foi detido pelos soldados americanos em 2003 acusado de colocar artefatos explosivos, mas foi libertado um ano mais tarde, depois de confirmada sua inocência.
- Durante minha detenção fui espancado, privado de comer e de dormir, enquanto falavam do respeito aos direitos humanos e do desejo de ajudar a estabelecer um sistema democrático - diz com sarcasmo o ex-réu.