Agência EFE
PARIS - O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, afirmou que é preciso desbloquear as negociações sobre a liberalização comercial até o fim de junho, pois, caso o contrário, as condições serão 'menos favoráveis' para fechar a Rodada de Doha.
"Caso deixemos passar o mês de junho, acho que as condições serão menos favoráveis que hoje para a conclusão (da Rodada de Doha)', disse Lamy em entrevista ao jornal econômico francês 'La Tribune'.
O diretor-geral da OMC disse que o fim de junho não é um prazo fixo, mas que coincide com o fim da autorização para negociar do presidente americano, George W. Bush.
O francês lembrou também que no próximo ano serão realizadas as eleições presidenciais nos Estados Unidos, que em 2009 ocorre a eleição do Parlamento Europeu na União Européia e que a reforma da Política Agrária Comum começará a ser examinada em 2008-2009.
Lamy disse que não é 'nem otimista nem pessimista' sobre a possibilidade de sair da situação atual, embora considere que 'um avanço é tecnicamente factível', e que os membros da OMC manifestaram 'uma certa impaciência' para concluir a Rodada de Doha.
Os pontos que obstaculizam o avanço das negociações não são nem "os grandes princípios nem a direção que deve-se dar a cada um dos temas', já que todos sabem que deverão reduzir os subsídios agrícolas e as tarifas industriais, comentou.
"As únicas questões que subsistem são em que proporções serão realizadas as baixas, os subsídios que poderão ser mantidos, os produtos que poderão continuar com proteção', argumentou.
Em termos mais gerais, o diretor-geral da OMC preveniu contra a tentação do protecionismo que, segundo ele, 'não protege, porque se um país começa a se proteger, os outros vão fazer o mesmo'.
Lamy admitiu que 'não é contestável' a reprovação dos países em desenvolvimento que 'subsistem a desigualdades' no sistema comercial multilateral: 'Não é uma casualidade que haja mais subsídios e proteções nos setores nos quais as vantagens comparativas dos países desenvolvidos são menos evidentes'.
"É uma herança colonial, como se a descolonização econômica não tivesse terminado 50 anos depois da descolonização política', argumentou, antes de citar os casos da agricultura e do setor têxtil.
Lamy, um socialista francês, insistiu em que a globalização é fonte de eficácia e de crescimento, mas também que 'a repartição do bem-estar e os ajustes criam dificuldades' e 'medos'.
A resposta aos medos deve vir da 'qualidade das políticas'
econômicas e deu como exemplo o que foi realizado nos países nórdicos europeus antes da abertura do setor têxtil ao comércio mundial, com relação ao que não se fez nos Estados do sul da Europa.
Além disso, o diretor-geral da OMC criticou os rumores de que seria um potencial primeiro-ministro da França após as eleições presidenciais, em caso de vitória tanto da candidata socialista Ségolène Royal, como do centro-liberal François Bayrou.
"Não tenho o costume de não terminar meus mandatos. Sempre os terminei', ressaltou Lamy, que lembrou ter sido eleito para estar à frente da OMC até setembro de 2009, com possibilidade de prorrogação até setembro de 2013.
"Os rumores não são, em sua maioria, bem-intencionados, mas pretendem complicar as coisas no exercício do meu mandato atual, que é claramente a prioridade para mim', afirmou.