Agência EFE
ROMA - O primeiro-ministro da Itália, Romano Prodi, renunciou nesta quarta-feira, após 281 dias de um Governo formado por uma coalizão de 16 partidos que logo deixou transparecer profundas divergências em questões cruciais, como a política externa, responsável pela derrota que derrubou o Executivo de centro-esquerda.
No entanto, Prodi, um ex-presidente da Comissão Européia que já comandara o Governo italiano nos anos 90, pode receber do presidente do país, Giorgio Napolitano, a incumbência de formar um novo Executivo.
As bases do Governo Prodi ruíram nesta quarta-feira, quando o Senado rejeitou a política externa em uma votação na qual faltaram apenas dois votos para o Executivo de centro-esquerda alcançar a necessária maioria de 160.
Após a derrota, Prodi reuniu-se com seus ministros e com os principais líderes de sua coalizão, chamada 'União'.
Em seguida, apresentou sua renúncia ao presidente Napolitano, chefe de Estado, que 'se reservou a decisão', o que significa que ainda não disse oficialmente se a aceitará ou não.
Mas Napolitano começará amanhã uma rodada de consultadas com os partidos políticos que deve levar à formação de um novo Executivo.
A centro-esquerda considera que Prodi deve formar e liderar o novo Governo, enquanto a oposição conservadora, liderada pelo magnata e ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, exige eleições antecipadas nos próximos meses.
Tudo começou de manhã, quando o ministro de Assuntos Exteriores, Massimo D'Alema, foi ao Senado para informar sobre a política externa do Governo.
D'Alema, também ex-premier, confirmou a continuidade das tropas italianas no Afeganistão e a ampliação da base americana em Vicenza, duas questões que suscitam fortes divergências dentro da aliança governista.
O ministro de Assuntos Exteriores já dissera na terça-feira em Ibiza, onde foi realizada uma cúpula ítalo-espanhola, que se o Governo não tivesse maioria na votação que aconteceria depois de seu relatório, todos os membros do Executivo teriam que 'ir para casa'.
O pior cenário possível para o Governo se confirmou quando o presidente do Senado, Franco Marini, leu o resultado que deixava o Executivo a dois votos da necessária maioria.
No ato, os legisladores da oposição formaram um coro exigindo a rneúncia do Governo.
A base governista contava com uma maioria de apenas dois votos no Senado. A pequena vantagem desvaneceu-se com a decisão do senador do partido Refundação Comunista, Franco Turigliatto, de renunciar e não votar a moção, anúncio feito durante a sessão.
Além disso, a medida não contou com o apoio de todos os senadores vitalícios, que em algumas situações importantes ajudaram o Governo a obter as maiorias necessárias.
Pouco depois da derrota governista, Berlusconi disse, em entrevista coletiva, que Prodi tinha 'a obrigação de renunciar, por razões de coerência política, constitucional e ética', e acrescentou que o país deveria 'sair imediatamente deste desastre'.
Durante os 281 dias de Governo, Prodi teve muitas dificuldades para lidar com as divisões surgidas na complexa base de apoio ao Governo, que reúne de democratas-cristãos a comunistas.
As divergências mais graves surgiram justamente na política externa, sobretudo em função da presença de tropas no Afeganistão e da ampliação da base que os Estados Unidos têm em Vicenza, no norte do país.
Inclusive membros da coalizão 'União' participaram, no fim de semana passado, de uma manifestação contra a ampliação da base americana.