SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Vagas em consulados, tradicionalmente consideradas posições menos glamourosas na diplomacia, passaram a ser muito disputadas por diplomatas em topo de carreira dentro do Itamaraty.
Muitos ministros de primeira classe e embaixadores vindos de cargos em que tinham poder ou prestígio têm preferido remoções para consulados, onde não precisam participar do dia a dia da política externa de Jair Bolsonaro.
No consulado, os diplomatas fazem um trabalho mais técnico, menos sujeito a pressões políticas. Cuidam de trâmites burocráticos de vistos e documentos e ocasionalmente apoiam missões empresariais e acadêmicas. Sua principal função é prestar assistência aos brasileiros no exterior.
Os consulados não participam de negociações nem de formulação de política externa. Esse papel cabe aos embaixadores, que agem como defensores das posições do governo no exterior. Por isso, alguns diplomatas no topo da carreira vêm tentando conseguir vagas em consulados.
Nos bastidores, é acirrada a disputa por esses postos. Muitos estão de olho nos próximos que devem "abrir" vagas -Hong Kong, Istambul, na Turquia, e Chicago, nos EUA.
Paulo César de Oliveira Campos, que era embaixador em Paris, foi para o consulado em São Francisco. Campos foi chefe do cerimonial do governo Lula durante mais de seis anos. Foi substituído na França por Luis Fernando Serra, que deu entrevistas combativas defendendo a política ambiental do governo Bolsonaro, criticada por causa das queimadas na Amazônia.
Gisela Padovan deixou o posto prestigioso de diretora-geral do Instituto Rio Branco para ser cônsul geral em Madri. Alexandre Vidal Porto, que era diretor do Departamento de Serviço Exterior, será cônsul geral em Frankfurt.
Tarcísio Costa, ex-chefe da Assessoria de Imprensa do Itamaraty no governo Temer, assumiu como cônsul-geral em Londres. E José Humberto de Brito Cruz, que era embaixador no Marrocos, foi para o consulado em Bruxelas.
O Itamaraty afirma que não houve mudança de proporção de servidores que se candidataram a vagas em embaixadas ou consulados. "As demandas de remoção apresentadas à chefia do MRE conservam as mesmas características de sempre", disse, em nota.