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Israel busca saída para impasse político após eleição terminar sem maioria

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TEL AVIV, ISRAEL (FOLHAPRESS) - Um dia depois das eleições parlamentares em Israel, que não coroaram um vencedor imediato, o país enfrenta uma espécie de ressaca política nesta quarta-feira (18), tentando decifrar o recado das urnas e, principalmente, prever os possíveis cenários políticos.

Com 99% das urnas apuradas, os resultados oficiais apontam que o partido de centro-esquerda Azul e Branco, do ex-comandante do exército Benny Gantz, foi o mais votado, com 32 das 120 cadeiras do Knesset (o Parlamento israelense).

Ele é seguido de perto pelo partido conservador Likud, do atual primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, que conseguiu abocanhar 31 assentos. Nenhuma das duas forças políticas têm chance de formar uma coalizão com maioria no Knesset (61 cadeiras).

Diante do impasse, a fábrica de rumores e conjecturas políticas funciona com força máxima, enquanto analistas esperam os próximos passos dos jogadores. Netanyahu anunciou que não irá discursar, este ano, na Assembleia Geral da ONU justamente para resolver o imbróglio político.

Ele também convocou uma reunião de emergência entre o Likud e seus aliados de partidos religiosos e de direita radical. A decisão foi formar um bloco de direita único, com 55 cadeiras, para tentar dar base a um um governo, mesmo sem maioria no Knesset. 

Com o bloco, Netanhyahu espera receber do presidente israelense, Reuven Rivlin, a incumbência de formar o novo governo, o que lhe daria vantagem nas negociações futuras.  

Gantz pode, em tese, formar um bloco unindo o Azul e Branco com siglas de esquerda e com a Lista Unida, que representa a minoria árabe e que ficou em terceiro lugar.

Essa coalizão, porém, ficaria com 56 cadeiras, incapaz de formar o governo. Os líderes árabes também já indicaram que não pretendem entrar em um bloco e que preferem seguir independentes. 

O consenso, no entanto é que, antes tido como "mágico político", Netanyahu perdeu o tom pela primeira vez em dez anos.

Mesmo sabendo de sua capacidade de tirar coelhos da cartola quando se trata de sobrevivência política, a maior parte dos analistas acredita que o único real cenário seria a formação de um governo de união nacional entre Azul e Branco e Likud.

Nesse caso, Gantz serviria como primeiro-ministro por dois anos e Netanyahu o substituiria dois anos depois.

"Realisticamente, não há outro cenário, porque, por mais que você olhe para os números, ninguém tem maioria. Portanto, a única opção é um governo de união nacional", diz o professor e cientista político Emmanuel Navon, da Universidade de Tel-Aviv e do Centro Interdisciplinar de Herzliya.

"Acho que, na verdade, é isso que a maioria dos israelenses quer: um governo centrista, estável e com pessoas em quem confiam, sem radicais e extremistas", afirma ele.  

Já houve precedente, em Israel. Em 1984, o Likud e o Partido Trabalhista se viram em impasse similar e decidiram por um governo em conjunto, com cada legenda liderando o governo por dois anos. O líder trabalhista, Shimon Peres, assumiu o cargo de primeiro-ministro antes, substituído, em 1986, por Yitzhak Shamir, do Likud.

Mas, agora, parece que essa costura é mais complicada. Um dos motivos é a promessa de campanha de Benny Gantz de que não se entraria em coalizão com o Likud sob liderança de Netanyahu, que pode ser indiciado a qualquer momento por casos de corrupção.

Trocando em miúdos: ele aceitaria um governo com o Likud, mas sob liderança de outra pessoa. Segundo Emmanuel Navon, não se trata de um cenário impossível.

 "Os mais veteranos do Likud estão cansados de Netanyahu. Só se mantinham fiéis enquanto ele vencia eleições. No momento em que ele não o fez -e este pleito foi uma derrota- a rebelião começa a borbulhar. Vai acontecer", aposta ele.  

"Junta-se a isso o possível indiciamento e o fato de que as pessoas estão frustradas por ele ter sido cruel ao eliminar qualquer líder em potencial do partido nos últimos 20 anos. Possíveis sucessores apenas esperam a hora de puxar o tapete e se livrar dele", diz o cientista político. 

Há dúvidas ainda se Netanyahu aceitaria trair a confiança de seus aliados tradicionais ao se unir a Benny Gantz e também, provavelmente, a Avigdor Lieberman, do partido Israel Nossa Casa.

Lieberman, maior defensor do govenro de união, jurou a seus eleitores seculares que não entraria em coalizões com partidos religiosos. "É um problema para o Likud, porque, a longo prazo, o partido sabe que precisa de sua aliança com os ultraortodoxos para formar coalizões futuras e em próximas eleições", diz Navon.

O governo de união até poderia deixar o Israel Nossa Casa de lado, mas ficará com apenas 63 cadeiras, duas a mais que o necessário. Com os nove assentos que Lieberman conquistou, a coalizão superaria os 70 assentos, dando mais estabilidade ao governo. 

Caso esse plano dê certo, a Lista Unida possivelmente se tornaria a maior força de oposição com suas 13 cadeiras --seria a primeira vez na história israelense que um líder árabe assumiria o comando da oposição. O resultado da sigla foi uma das surpresas da eleição. surpreendeu 

Para Navon, Netanyahu errou ao realizar uma campanha eleitoral com incitações contra a minoria árabe-israelense (20% da população). O resultado foi a ida em massa de eleitores árabes às urnas, elegendo a Lista Unida como a terceira maior força do país. "Nesse sentido, Netanyahu realmente deu um tiro no pé com sua campanha".

Mas Navon e outros comentaristas sabem que, quando se trata de Netanyahu e do Likud, é sempre possível esperar por surpresas.

(Daniela Kresch - FolhaPress)

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