Caminhar sobre cadáveres já antigos de alpinistas congelados durante a jornada para chegar ao topo do Everest era algo para o qual Nick Hollis estava mentalmente preparado, mas nem o montanhista experiente poderia imaginar que haveria tantos corpos novos neste ano.
O britânico de 45 anos acabou de escalar o Everest e completar todos os Sete Picos do mundo, o que o insere em um grupo de elite de cerca de 500 pessoas de todo o mundo que subiram nas montanhas mais altas dos sete continentes.
A mais recente escalada --o pico de 8.850 metros do Everest, no Himalaia-- foi "muito mais dura do que o esperado", em parte devido à presença de alpinistas lentos e inexperientes demais, um perigo para si mesmos e outros.
Autoridades do Nepal dizem que 11 pessoas morreram no Everest nesta temporada, nove do lado nepalês e duas do lado tibetano, o que torna esta a temporada mais letal desde 2015.
"O que eu não esperava ver eram tantos corpos de alpinistas que haviam morrido ou naquele dia ou no dia anterior", disse Hollis em uma entrevista em sua casa no sul da Inglaterra.
"Não é exagero dizer que você está caminhando sobre corpos".
O saldo de mortes, somado a fotos de filas de alpinistas seguindo para o cume sul do Evereste vistas ao redor do globo, despertou o receio de que as autoridades estejam liberando permissões de escalada demais e que alpinistas inexperientes estejam sendo incentivados por empresas de excursão inescrupulosas a realizarem a escalada perigosa.
O governo nepalês emitiu um número recorde de 381 permissões neste ano, cada uma por 11 mil dólares. Somando-se a isso os sherpas e guias essenciais, havia mais de 800 pessoas tentando chegar ao cume em um ano no qual a chamada "janela climática" foi de alguns poucos dias no final de maio.
Hollis, que alcançou o pico na madrugada de 21 de maio, disse que os problemas de circulação se devem a vários fatores, como o clima ruim e a grande quantidade de pessoas.
Mas o mais perigoso, em sua opinião, é o número crescente de "alpinistas incompetentes" que se movem muito lentamente através de setores técnicos da rota, criando engarrafamentos e longos atrasos.
"A paisagem do Everest mudou", disse. "E as coisas parecem ter chegado a um limite neste ano".
Ele descreve a visão "totalmente surpreendente" de pessoas no Campo de Base que planejam tentar a escalada sem ter habilidades básicas, como saber como usar ponteiras ou prender um arnês.
(Reportagem adicional de Stuart McDill)