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Theresa May abre possibilidade de nova votação popular sobre o brexit

REUTERS/Hannah Mckay -
Premiê britânica Theresa May em Downing Street
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A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, disse nesta terça-feira (21) que o Parlamento britânico poderá decidir se o acordo de saída do país da União Europeia (UE) deve ser levado a voto popular, no que poderia abrir caminho para uma segunda consulta sobre o brexit.

A proposta integra a "versão 2.0" do pacto de separação (agora sob a forma de lei), sobre a qual os deputados deverão se pronunciar na primeira semana de junho.

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Premiê britânica Theresa May em Downing Street (Foto: REUTERS/Hannah Mckay)

Será a quarta tentativa da líder conservadora de aprovar os termos do divórcio entre Londres e Bruxelas (sede da governança europeia).

Ela afirmou a correligionários que definirá o calendário de sua sucessão assim que essa votação acontecer.

O plebiscito que definiu o desligamento do Reino Unido da UE ocorreu em junho de 2016. Praticamente três anos depois, um impasse sobre os termos desse adeus trava a cena política britânica –e monopoliza o debate também no plano europeu.

May resistiu a duas tentativas de desalojá-la da chefia de governo (arquitetadas ora por seu próprio partido, ora pela oposição), e o Dia D do brexit, inicialmente agendado para 29 de março de 2019, já foi adiado duas vezes.

Conforme o mais recente acerto com a UE, precisa acontecer agora até 31 de outubro deste ano.

A nova "embalagem" do acordo apresentada pela primeira-ministra na terça sucede a interrupção de conversas com o Partido Trabalhista (principal força da oposição) em que os lados buscavam uma solução consensual para fazer jus ao resultado do plebiscito de 2016.

Um dos principais pontos de atrito nessas negociações, que consumiram seis semanas sem gerar frutos, girava em torno da união aduaneira entre Londres e o bloco de 27 países.

Os trabalhistas queriam um elo permanente, enquanto o governo só aceitava que ele fosse temporário –sob o argumento de que um alinhamento perene impediria o Reino Unido de fechar acordos comerciais com parceiros de fora da União Europeia.

Segundo May, caberá também ao Parlamento decidir o que fazer nessa frente.

O plano reciclado da primeira-ministra busca diminuir a antipatia dos deputados à ideia de uma união aduaneira pós-brexit. Para isso, propõe introduzir um artigo que obriga legalmente o governo a buscar soluções alternativas até o fim de 2020 para que ela não precise entrar em vigor.

A hipótese de uma zona de livre-comércio com tarifa externa comum, temporária, foi incluída no acordo fechado por Reino Unido e UE para evitar a volta de postos de controle de mercadoria e pessoas na única fronteira terrestre entre eles, onde a República da Irlanda (país-membro do bloco) e Irlanda do Norte (parte do Reino Unido) se tocam.

A chefe de governo também afirmou que, na segunda fase de negociações sobre a saída britânica, em que será desenhada a nova relação comercial com a Europa, o Legislativo voltará a ser consultado.

Resta a saber se o pacote de acenos ao Parlamento será suficiente para fazer um número expressivo de deputados mudarem de opinião.

O texto recauchutado inclui até concessões à oposição –por exemplo, nos artigos que fixam a obrigação dos governos britânicos futuros de manter leis trabalhistas e ambientais nacionais alinhadas às europeias. Com isso, May pretende atrair votos de alguns trabalhistas moderados.

A grande incógnita sobre esse papel turbinado do Parlamento é o histórico recente das votações na Casa.

Desde o começo de 2019, os deputados tiveram duas oportunidades de assumir as rédeas do brexit, determinando um roteiro que o Executivo, se não obrigado legalmente, seria sem dúvida constrangido a seguir.

Acontece que os parlamentares não conseguem se pôr de acordo sobre nenhuma proposta. Em uma das sessões em que se realizaram votos indicativos sobre os passos seguintes da separação, eles chegaram a recusar oito proposições.

A impasse entre Legislativo e governo se agravou em 29 de março, o chamado Dia D do brexit, quando os deputados rejeitaram pela terceira vez o acordo negociado por May com a União Europeia por uma diferença de 58 votos. Na primeira consulta, em janeiro, fora de 230 -maior derrota de um governo na história do Reino Unido-, e na segunda, em 12 de março, de 149.