ASSINE
search button

Catedral de Notre-Dame abriga obras centenárias; extensão do dano é desconhecida

REUTERS/Philippe Wojazer -
Incêndio destrói parte da Catedral de Notre-Dame
Compartilhar

Quadros, esculturas e artefatos históricos, alguns com mais de 400 anos, podem ter sido danificados pelo incêndio que atingiu a catedral de Notre-Dame, em Paris, nesta segunda-feira (15).

Bombeiros ainda combatem as chamas na Île de la Cité, uma pequena ilha no centro de Paris banhada pelo rio Sena.

Macaque in the trees
Incêndio destrói parte da Catedral de Notre-Dame (Foto: REUTERS/Philippe Wojazer)

O prédio, cuja construção começou em 1163, abriga um amplo acervo. Para o crítico de arte e historiador Fábio Magalhães, a importância do conjunto das obras está justamente ligada a sua preservação através dos séculos.

"Notre-Dame sobreviveu à Segunda Guerra Mundial, não foi bombardeada, ao contrário do que ocorreu com a catedral de Colônia e de Dresden [ambas na Alemanha]", diz.

Dezesseis esculturas que ornavam a parte externa foram retiradas na última sexta (12) para trabalhos de restauração –foram, portanto, poupadas do incêndio.

Um dos sinos da catedral, chamado de Emmanuel, data de 1681 e pesa mais de 13 toneladas.

Em 2012, todos os sinos foram trocados, exceto Emmanuel, que segue instalado na torre sul. Eles foram derretidos e substituídos por novos, capazes de reproduzir mais fielmente os sons originais do século 17, além de serem mais afinados.

O fogo desta segunda teria começado nas torres, onde ficam os sinos.

A catedral também abriga várias pinturas desse século, entre elas "São Tomás de Aquino, Fonte de Sabedoria" (1648), de Antoine Nicolas.

O filósofo –que viveu entre 1225 e 1274– ensinava teologia na Universidade Sorbonne, em Paris, e escreveu parte de sua obra no convento de Saint-Jacques (que fica no 13º arrondissement, como são chamados os bairros da cidade).

Historiadores acreditam que ele frequentou a catedral à época de sua construção.

Os "Mays de Notre-Dame", que também compõem o acervo, são um conjunto de cerca de 73 quadros que foram presenteados à catedral pelos ourives parisienses.

Durante séculos, os profissionais faziam uma doação por ano à igreja, sempre no 1º de maio. A tradição se iniciou em 1449, mas a partir de 1630 os presentes passaram a ser grandes pinturas –chegavam a ter mais de quatro metros de altura.

Muitas delas se perderam durante a Revolução Francesa e outras foram transferidas para museus, como o Louvre. Restam cerca de 50 quadros, dos quais treze estão expostos na catedral.

Os mais antigos, "A descida do Espírito Santo", de Jacques Blanchard, e "São Pedro curando os doentes com sua sombra", de Laurent de la Hyre, datam de 1934 e 1935, respectivamente.

"Há muita documentação disponível e tecnologia que permitem restaurar as obras [eventualmente perdidas]", diz Magalhães. Ele ressalta, no entanto, que provavelmente seriam feitas réplicas, mesmo que bastante fiéis às originais.

A catedral também é conhecida por seus vitrais coloridos, notadamente a Rosa Sul e a Rosa Norte, construídas por volta de 1260 e 1250, respectivamente.

A Rosa Sul, por exemplo, é composta de 84 painéis divididos em quatro círculos. Eles representam em riqueza de detalhes os 12 apóstolos, além de mártires e santos geralmente venerados pelos franceses, como São Mateus.

"Os vitrais da catedral são de vários períodos diferentes", explica Magalhães. Ao longo dos séculos, eles foram restaurados e modificados diversas vezes, perdendo-se assim seu desenho original.

Naturalmente frágeis e vulneráveis ao calor, é grande a probabilidade de terem sido danificados no incêndio.