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Trump sai vitorioso do relatório Mueller; oposição discorda

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O presidente americano, Donald Trump, declarou-se completamente liberado depois que a investigação do procurador especial Robert Mueller destacou a ausência de evidência de conluio com Moscou durante as eleições de 2016, abrindo o horizonte para sua tentativa de reeleição.

O procurador não isenta, porém, o presidente americano da acusação de obstrução de Justiça na questão russa, de acordo com um resumo do relatório Mueller publicado no domingo, o que deixa dúvidas que os rivais democratas se preparam para explorar.

Divulgadas pelo procurador-geral Bill Barr, as conclusões da investigação de Mueller constituem uma vitória para o presidente, que repetiu durante meses que não houve "conluio" com a Rússia. Também dão mais oxigênio para o republicano ante as eleições de 2020, quando buscará um novo mandato de quatro anos.

"Não (houve) conluio, nem obstrução, totalmente ISENTO", tuitou no domingo o presidente, que há meses denunciava uma "caça às bruxas" orquestrada pelos opositores democratas.

"É uma vergonha que nosso país tenha passado por isso. Para ser honesto, é uma pena que seu presidente tenha passado por isso", disse a jornalistas na Flórida antes de embarcar em seu avião para retornar à Casa Branca.

Foi "uma tentativa ilegal de impeachment que fracassou", acrescentou.

Em reação ao relatório, o Kremlin voltou a negar nesta segunda-feira qualquer interferência na eleição presidencial dos Estados Unidos em 2016, uma negativa em conflito com as próprias conclusões de Mueller e da comunidade de Inteligência dos Estados Unidos.

Em um comunicado de quatro páginas que resume as conclusões de Mueller, Barr afirma que nenhum integrante da equipe de campanha de Trump esteve envolvido nos esforços da Rússia para hackear os computadores do Partido Democrata e inundar as redes sociais com desinformação para prejudicar a candidata Hillary Clinton.

Os líderes democratas do Congresso dos Estados Unidos exigiram no domingo a publicação do relatório "completo", por considerar que Barr "não é um observador neutro".

"A carta do secretário de Justiça (Bill) Barr apresenta tantas perguntas como (as que) responde", afirmaram em um comunicado a presidente democrata da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, e o líder da minoria no Senado, Chuck Schumer.

"É urgente que o relatório completo e os documentos associados se tornem públicos", completaram.

Nesta segunda, a Casa Branca respondeu que Trump "não tem nenhum problema" com este pedido.

Os democratas Jerry Nadler, Adam Schiff e Elijah Cummings, que comandam três poderosas comissões parlamentares no Congresso, insistiram no ponto da obstrução de Justiça, destacando que o relatório Mueller "expressamente não inocenta o presidente".

Primeiro destinatário do tão aguardado documento, Barr destacou que o informe não faz menção a qualquer delito suscetível de levar, de acordo com seu ponto de vista, a procedimentos judiciais com base em uma obstrução de Justiça.

O discreto e metódico Mueller entregou suas conclusões na sexta-feira após uma investigação de 675 dias que abalou os EUA, em um caso que alguns não hesitaram em comparar com o Watergate, que levou Richard Nixon à renúncia em agosto de 1974.

Preparando o terreno para a ausência de revelações, alguns legisladores democratas insistiram no domingo em ressaltar os limites da investigação.

"O procurador especial estava investigando em um marco restrito. (...) O que o Congresso deve fazer é ter uma visão geral", disse à CNN Nadler, presidente democrata do Comitê de Assuntos Judiciários da Câmara, onde a oposição tem maioria desde janeiro.

Trump estava de "ótimo humor" no domingo, de acordo com um porta-voz, e alguns de seus aliados clamam vitória considerando que o fato de Mueller não ter recomendado novas acusações no final de suas investigações provaria que não houve "conluio" com Moscou.

De fato, esta acusação não foi apresentada contra nenhuma das 34 pessoas indiciadas no caso, incluindo seis colaboradores próximos de Trump.

"Até agora, o relatório Mueller era a referência absoluta, seria a salvação dos democratas e a destruição do presidente Trump", disse o senador republicano Ted Cruz, que por alguns meses se tornou um grande defensor do presidente.

Embora a operação de Mueller tenha chegado ao fim, os democratas no Congresso realizam 17 investigações sobre o governo, com um alcance maior do que a abordagem relativamente limitada do procurador.

A investigação de Mueller levou à perda de prestígio do ex-diretor de campanha do presidente Paul Manafort e de seu ex-advogado particular Michael Cohen, condenados à prisão por fraude e por falso testemunho.

Para Pette Buttigiegg, jovem prefeito da cidade de South Bend (Indiana) e pré-candidato democrata à Presidência, o documento discutido é importante, mas seu campo não deve perder de vista as eleições de novembro de 2020.

"Para mim, a maneira mais clara de acabar com o trumpismo é ganhar, de forma categórica, nas urnas", apontou.

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