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Guaidó viaja à fronteira com a Colômbia para buscar ajuda humanitária

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O líder opositor Juan Guaidó, autoproclamado chefe de Estado interino da Venezuela, viajou discretamente nesta quinta-feira (21) rumo à fronteira com a Colômbia para chefiar a entrada da ajuda humanitária enviada pelos Estados Unidos, enquanto o presidente Nicolás Maduro ordenou o fechamento da fronteira com o Brasil, onde fica um centro de armazenamento de medicamentos e alimentos.

Longe da imprensa e sem se deixar ser visto pelo público, Guaidó, reconhecido por cerca de 50 países como presidente interino venezuelano, continua seu percurso de aproximadamente 900 km de Caracas ao fronteiriço estado Táchira (oeste), um dos pontos por onde entrará a ajuda humanitária no sábado.

Inicialmente, ele se deslocou em um comboio de caminhonetes com vidros escuros seguida pela AFP e outros veículos de mídia. Entretanto, a caravana se dividiu e não se sabe em que veículo o presidente autoproclamado da Venezuela está.

Em um outro comboio de ônibus, a vários quilômetros de distância, viajam deputados que o acompanharão na fronteira.

Pelo Twitter informou-se a a chegada a Curaçao de carregamentos de medicamentos e alimentos embarcados em Miami (EUA) e o envio de ajuda do Chile à cidade colombiana de Cúcuta, onde fica o principal centro de armazenamento.

Enquanto isso, em reunião com o alto comando militar, Maduro ordenou fechar a fronteira terrestre com o Brasil a partir das 20h00 (horário local) e disse que avalia o mesmo no caso colombiano, como foi ordenado na terça-feira para o tráfego aéreo e com Curaçao, onde há outro armazém.

O governo brasileiro não identifica "possibilidades de fricção na região, porque o ponto focal é a ajuda humanitária", informou o porta-voz Otávio Rêgo Barros, que acrescentou que o Brasil manterá o apoio logístico para a assistência como estava previsto.

María Teresa Belandria, designada embaixadora da Venezuela no Brasil pelo líder opositor Juan Guaidó, afirmou nesta quinta à AFP que a entrega de ajuda humanitária ao país caribenho "continua", apesar do fechamento da fronteira.

"A operação continua. Não tem volta atrás", disse Belandria.

"A Venezuela está vivendo uma grande provocação. Às vezes parece uma brincadeira de meninos. As meninas à frente do golpe fracassaram", disse Maduro, referindo-se à ajuda humanitária como "falsa" e como "show".

Segundo a oposição, brigadas de voluntários - que se espera que cheguem a 1 milhão de pessoas - vão buscar a ajuda humanitária em vários pontos nos estados de Táchira (oeste) e Bolívar (sul), fronteiriços com Cúcuta (Colômbia) e Roraima (Brasil), onde há centros de distribuição, e a Puerto Cabello e La Guaira - os dois principais portos do país.

Em contrapartida, o governo enviou para Cúcuta, onde fica o maior centro de coleta de assistência enviada pelos Estados Unidos, milhares de caixas de comida em uma caravana de 11 caminhões de carga. Maduro também anunciou nesta quinta a chegada de 7,5 toneladas de medicamentos e insumos médicos da Rússia.

Enquanto isso, Guaidó, que também é chefe do Legislativo, convocou manifestações no sábado para acompanhar várias caravanas que vão buscar a ajuda e uma mobilização às guarnições militares.

O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, viajará para a Colômbia na segunda-feira para manifestar o apoio "inabalável" do governo de Donald Trump a Guaidó, informou a Casa Branca.

Onze diplomatas e funcionários consulares venezuelanos nos Estados Unidos declararam seu respaldo a Juan Guaidó, informaram representantes do líder opositor nesta quinta-feira.

Carlos Vecchio e Gustavo Marcano, embaixador e ministro-conselheiro designados por Guaidó e reconhecidos pelo governo de Donald Trump, asseguraram em coletiva de imprensa que 11 dos 56 funcionários acreditados não reconhecem Maduro.

O general Hugo Carvajal, ex-diretor de inteligência militar do governo de Hugo Chávez também reconheceu nesta quinta o líder da oposição Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela e pediu aos militares que rompam com o presidente Nicolás Maduro.

Na véspera do dia 'D', será realizado em Cúcuta, em um extremo da ponte Tienditas, o show "Venezuela Aid Live", ao qual irão os presidentes colombiano, Iván Duque; chileno, Sebastián Piñera, e paraguaio, Mario Abdo.

Fernán Ocampo, porta-voz da organização do evento, disse que é aguardado um público de 250.000 pessoas, mas a capacidade instalada pode receber 500.000.

Uns 30 voos privados chegam nestes dias a Cúcuta levando os artistas, enquanto 1.500 policiais e um dispositivo militar serão deslocados para o evento.

Vão se apresentar artistas do porte dos espanhóis Alejandro Sanz e Miguel Bosé, o dominicano Juan Luis Guerra, os colombianos Juan Vives Guerra, os colombianos Carlos Vives e Juanes, os mexicanos Maná e Paulina Rubio, o porto-riquenho Luis Fonsi e os venezuelanos José Luis Rodríguez (conhecido como 'El Puma'), Nacho e Ricardo Montaner.

Ainda não foram anunciados os participantes do concerto chavista, denominado "Hands Off Venezuela" (Tirem as mãos da Venezuela), o qual, segundo o ministério das Comunicações, denunciará a agressão contra o país.

"O que fizerem do outro lado da fronteira é problema deles (...) Nós defenderemos nosso território", disse nesta quarta à imprensa o líder chavista Darío Vivas na entrada da ponte.

A grande incógnita é como vão passar a carga se Maduro, apoiado pela Força Armada, rejeitou a ajuda por considerá-la uma "esmola" e uma porta de entrada à invasão militar americana.

"Senhores da Força Armada, têm três dias para se colocar ao lado da Constituição. Esta ajuda é para salvar vidas", assegurou Guaidó.

Mas embora os militares bloqueiem algumas áreas, a fronteira de 2.200 km entre a Venezuela e a Colômbia é muito porosa. Alguns setores são controlados por máfias de contrabando de gasolina e narcotráfico que operam em passagens clandestinas.

Angustiados pela escassez e pela hiperinflação voraz, todos os dias centenas de venezuelanos passam pela ponte Simón Bolívar, principal passagem de pedestres, que liga Cúcuta e San Antonio Táchira, e pelas cerca de 30 passagens ilegais que, segundo a Polícia colombiana, existem na região.

"Não descartamos absolutamente nada", disse Guaidó, perguntado se a ajuda pode passar por estes caminhos.

Tentando contrabalançar a ofensiva do opositor, o governo de Maduro fará jornadas de assistência médica gratuitas na fronteira e a distribuição de 20 mil caixas de alimentos a moradores de Cúcuta.

"O governo não tem como ganhar este jogo, está tentando minimizar os danos", avaliou o analista Luis Vicente León.