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Bolsonaro e Macri condenam a 'ditadura' da Venezuela e se comprometem com Mercosul

Marcelo Camargo | Agência Brasil -
O presidente Jair Bolsonaro recebe o presidente da Argentina, Mauricio Macri, para almoço no Palácio do Itamaraty.
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Os presidentes do Brasil e da Argentina, Jair Bolsonaro e Mauricio Macri, respectivamente, condenaram com veemência "a ditadura de Nicolás Maduro" na Venezuela, enquanto se comprometeram a reformar o Mercosul e a agilizar as negociações comerciais "em curso", especialmente com a União Europeia (UE).

"Reafirmamos nossa condenação à ditadura de Nicolás Maduro. Não aceitamos esse deboche com a democracia", afirmou Macri em um comunicado conjunto após se reunir com Bolsonaro no Palácio do Planalto.

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O presidente Jair Bolsonaro recebe o presidente da Argentina, Mauricio Macri, para almoço no Palácio do Itamaraty. (Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil)

"A comunidade internacional já percebeu: Maduro é um ditador que busca se perpetuar no poder por meio de eleições fictícias, aprisionando oponentes e levando os venezuelanos a uma situação desesperadora", acrescentou.

Macri já havia feito comentários similares na quinta-feira passada, dia em que Maduro assumiu um novo mandato, e nesta quarta foi muito mais enfático em suas críticas ao governo da Venezuela que Bolsonaro, a quem o presidente venezuelano chamou na véspera de "Hitler dos tempos modernos".

O presidente de extrema direita, que costuma ser especialmente crítico com as "ditaduras" de Venezuela, Cuba e Nicarágua, e que deu uma guinada diplomática radical no Brasil, se limitou a dizer que a cooperação entre Brasil e Argentina com relação à situação na Venezuela é "o exemplo mais claro da convergência de posições" entre os dois países, sem mencionar Maduro diretamente.

Macri lembrou que Brasil e Argentina, no contexto do Grupo de Lima, consideram ilegítimo o novo mandato de Maduro e reconhecem em seu lugar a Assembleia Nacional como a "única instituição legítima" no país caribenho.

Na terça-feira, o Parlamento venezuelano, único poder controlado pela oposição, prometeu anistiar os militares que não reconhecem o "usurpador" Maduro, cada vez mais isolado internacionalmente.

Seu novo mandato também não é reconhecido pelos Estados Unidos, pela UE e por vários países da América Latina, alegando que é resultado de eleições fraudulentas.

O outro grande tema da reunião foi o Mercosul, bloco também composto por Paraguai e Uruguai, que está na corda bamba desde que Bolsonaro ameaçou deixar o grupo se este não for modernizado.

"O Mercosul precisa valorizar sua tradição original. Abertura comercial, redução de barreiras, eliminação de burocracias. O propósito é construir um Mercosul enxuto, que continue a fazer sentido e ter relevância", afirmou Bolsonaro.

"É preciso concluir rapidamente as negociações mais promissoras e iniciar novas negociações, com criatividade e flexibilidade para recuperarmos o tempo perdido", continuou o presidente, que somou o Brasil à onda antiglobalizadora que se espalha pelo planeta, em países como Estados Unidos, Itália e Hungria.

Macri, que ostenta a presidência de turno do bloco, ressaltou que a negociação para alcançar um acordo de livre-comércio com a União Europeia "necessitou de muito esforço e avançou como nunca antes".

"Com a sua (Bolsonaro) chegada, temos a oportunidade de renovar o compromisso político do Mercosul e das os passos até um acordo que beneficie os dois blocos", concluiu.

As negociações, iniciadas há mais de 20 anos e retomadas recentemente, ainda não superaram as resistências de setores sensíveis em temas como a proteção das leis e denominações de origem, acesso ao mercado europeu e o ritmo de liberalização do setor de sul-americano de autopeças.

Em declarações à imprensa, o chanceler argentino, Jorge Faurie, indicou que a prioridade do bloco sul-americano será acelerar as negociações, que já "estão muito prontas", como as da UE, dos países do EFTA (Suíça, Islândia, Noruega e Liechtenstein) e Canadá.

Faurie assinalou que o Mercosul "é um espaço terrivelmente fechado, vinculado somente com 10% do PIB mundial", e se algumas negociações "em curso" forem concluídas, alcançariam uma relação com 25% do PIB mundial.

Os presidentes, em seu primeiro encontro desde que Bolsonaro assumiu o cargo, assinaram um novo tratado de extradição entre os dois países e se comprometeram a aprofundar a relação estratégica das duas principais economias da América do Sul.

"Não há tabus na relação bilateral", destacou Bolsonaro, que elogiou a gestão de Macri para "reerguer a economia da Argentina", que fechou em 2018 com uma inflação de 47,6%, a segunda mais alta da América Latina, atrás da Venezuela.

"As reformas econômicas que o Brasil e a Argentina estão levando adiante são fundamentais para o crescimento sustentado e para revigorar o intercâmbio comercial", assinalou Bolsonaro, que impulsiona um ambicioso plano de ajuste com o qual pretende reativar a economia do país.

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