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Kosovo adota Exército para afirmar sua soberania

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O Kosovo se dotou, nesta sexta-feira, de um Exército para afirmar sua soberania, com o apoio dos americanos e o risco de piorar as relações com a Sérvia, que não reconhece a independência de sua antiga província.

Depois de ter estabelecido um ministério da Defesa e antes de adotar uma lei de organização, os deputados kosovares votaram um texto que altera o mandato da Força de Segurança do Kosovo (KSF), hoje a principal responsável por missões de segurança civil.

"O Parlamento do Kosovo aprovou a Lei sobre a Força de Segurança do Kosovo! Parabéns!", declarou o presidente do Parlamento diante dos deputados unânimes, uma vez que os dez representantes eleitos da minoria sérvia boicotaram a sessão.

Esta força será responsável por "garantir a integridade territorial do país, proteger a propriedade e os interesses da República do Kosovo, fornecer apoio militar às autoridades civis em caso de catástrofe e participar de operações internacionais", segundo o texto.

Desde a guerra entre as forças sérvias e rebeldes albaneses do Kosovo (1998-1999, mais de 13.000 mortos), a segurança e integridade territorial do Kosovo são garantidas pela Kfor, uma força internacional liderada pela Otan.

A Sérvia reagiu a esta notícia, afirmando que "continuará no caminho da paz e da estabilidade", segundo a primeira-ministra Ana Brnabic.

"Para mim, é um dia difícil, não é um dia que vai contribuir para a cooperação regional", declarou, considerando que "sem uma região estável, não haverá uma Sérvia estável".

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, lamentou a aprovação da criação do Exército e anunciou que a Aliança vai reavaliar seu papel neste território.

Com a modificação do mandado da Kfor, a Otan "se verá obrigada a reexaminar seu nível de compromisso", indicou.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou sua "preocupação" e pediu "moderação a todas as partes envolvidas".

A União Europeia criticou a medida afirmando que "o mandato da Força de Segurança de Kosovo (KSF) só pode ser modificado mediante um gradual e inclusivo processo, de acordo com a Constituição de Kosovo".

Mas a decisão foi bem recebida pelos Estados Unidos, que destacou a contribuição de Pristina "à paz e à estabilidade no Kosovo e na região".

Ao meio-dia, nenhum incidente havia sido relatado em áreas povoadas predominantemente por sérvios, particularmente na cidade dividida de Mitrovica, onde, como em outros partes do Kosovo, foram adotadas medidas de segurança.

A zona norte está adornada com bandeiras sérvias, enquanto o lado albanês, ao sul do rio Ibar, com bandeiras dos Estados Unidos, sólido apoio de Pristina, que apoiou a criação deste Exército.

"Soldados! Parabéns! Novas missões!", comemorou antecipadamente na quinta-feira o presidente Hashim Thaçi. Ele assegurou que o novo Exército estará a serviço de todos os cidadãos, independentemente da sua etnia, uma década após a declaração de independência por Pristina reconhecida por cerca de 115 países, mas rejeitada por Belgrado, Rússia e China, que fecham as portas da ONU ao Kosovo.

"Agora podemos dizer que somos um Estado. Um Estado sem um Exército não existe", disse Skender Arifi, um cabeleireiro de 37 anos.

Em Belgrado, como entre os 120.000 sérvios que ainda vivem no Kosovo, este Exército é recebido com uma mistura de preocupação e raiva.

"Espero que se os albaneses (do Kosovo) fizerem algo contra nós, o Estado sérvio faça algo para nos proteger", comentou Marko Djusic, morador de Dren.

A criação deste Exército ocorre em um contexto de péssimas relações com a Sérvia, ilustrado pela instauração, em novembro, pelo Kosovo, de barreiras alfandegárias aos produtos sérvios.

O diálogo entre ambas as partes está em ponto morto. Pristina exige como condição prévia que a Sérvia reconheça sua independência proclamada em 2008, enquanto a Sérvia inscreve em sua Constituição a tutela sobre sua antiga província, majoritariamente povoada por albaneses.

O presidente sérvio, Aleksandar Vucic, vê na criação de um Exército e nessas barreiras alfandegárias a vontade "de expulsar o povo sérvio do Kosovo". Uns 120 mil sérvios vivem no Kosovo.

A primeira-ministra sérvia, Ana Brnabic, disse esperar que a Sériva "nunca precise usar seu Exército", mas advertiu que é "uma das opções" possíveis, já que Belgrado não aceitaria "uma nova limpeza étnica".

O orçamento para preparar este Exército de 5.000 soldados (e 3.000 reservistas) será de 57 milhões de euros previstos para 2019. Esta força é pouco comparável à do Exército sérvio e seus 30.000 militares, tanques e aviões de combate.

bur-ng/pg/mr