ASSINE
search button

Governo espanhol endurece tom com separatistas da Catalunha

Compartilhar

Pressionado pelas forças antisseparatistas na Espanha, o governo socialista abandonou seu tom conciliador com os independentistas catalães e ameaçou assumir a garantia da ordem pública, se a região for incapaz de mantê-la.

À frente de um Executivo minoritário desde junho, o presidente do governo, Pedro Sánchez, vinha fazendo um trabalho de equilibrista, multiplicando seus gestos para com os separatistas, na esperança de obter os votos necessários para aprovar o orçamento de 2019.

Denunciada com força pela direita, esta política conciliadora contribuiu para a derrota dos socialistas nas eleições regionais andaluzas de 2 de dezembro.

Em carta divulgada na segunda-feira à noite, o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, alertou seu homólogo catalão que, se a polícia regional não exercer "as funções que constitucional, estatutária e legalmente lhe cabem", as forças de segurança do Estado vão intervir.

A advertência foi publicada nas primeiras páginas da imprensa espanhola.

A carta menciona um bloqueio de 15 horas, registrado no sábado, na autoestrada AP-7, que une a costa mediterrânea espanhola com a França, por parte de militantes radicais dos Comitês de Defesa da República (CDR). Esses grupos foram criados para forçar a ruptura com a Espanha.

Seguindo o modelo dos "coletes amarelos" que protestam desde meados de novembro na França, os CDRs depois suspenderam os bloqueios, no domingo, sem que a polícia catalã, os Mossos d'Esquadra, interviesse.

Na segunda-feira (10), em Bruxelas, o ministro espanhol das Relações Exteriores, Josep Borrell, afirmou que "não é normal, em um país moderno e civilizado, que as autoestradas sejam interrompidas durante 15 horas porque 200 pessoas quiseram manifestar seu protesto".

A Catalunha, o País Basco e Navarra são as três regiões espanholas que dispõem de sua própria polícia. No restante do território, a ordem é garantida pela Polícia Nacional e pela Guarda Civil.

Na região catalã, os Mossos se encontram entre dois fogos.

Por um lado, seus antigos responsáveis estão à espera de um julgamento, acusados de terem participado da tentativa de secessão da Catalunha de outubro de 2017.

Por outro, o presidente regional catalã, o separatista Quim Torra, exigiu na semana passada mudanças na direção do corpo policial, após violentos confrontos entre agentes e militantes dos CDRs. Algo que o ministro catalão do Interior rejeitou.

Com sua ameaça de assumir o controle da ordem pública na Catalunha, Madri busca também garantir o normal desenvolvimento de um conselho de ministros previsto para acontecer em 21 de dezembro, em Barcelona. Separatistas radicais já prometeram paralisar o evento com manifestações.

Pedro Sánchez tenta ainda recuperar espaço, no momento em que a direita o acusa de ser refém dos independentistas catalães.

O discurso contra os separatistas favoreceu a direita e a extrema direita nas eleições passadas no reduto socialista da Andaluzia, naquele que foi o primeiro teste eleitoral desde a chegada dos socialistas ao poder em Madri.

E os apelos da oposição a Sánchez para que mantenha a linha dura com os separatistas se reforçaram depois que Torra pediu aos catalães, no sábado, que sigam o exemplo da Eslovênia. Lá, deflagrou-se um conflito que deixou 62 mortos, com a proclamação unilateral de sua independência em relação à Iugoslávia, em 1991.

"Os resultados na Andaluzia reforçaram a virada do eleitorado espanhol para a direita, e a radicalização do panorama na Catalunha cria un cenário, no qual Sánchez se vê forçado a fazer algum gesto para demonstrar que o governo não está disposto a permitir um desvio dos CDRs na Catalunha", disse à AFP o professor Oriol Bartomeus, da Universidade Autônoma de Barcelona.

Uma ruptura total com os separatistas catalães, sem os quais seria impossível para Sánchez aprovar os orçamentos que pretende apresentar em janeiro, poria a sobrevivência de seu Executivo em perigo antes do previsto.

pmr/du/zm/tt