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ONU propõe cessar-fogo em Hodeida e outra cidade iemenita devastada

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A ONU, que impulsionou o diálogo entre os atores em conflito no Iêmen, quer alcançar um cessar-fogo entre duas cidades devastadas pela guerra: a cidade portuária de Hodeida, no âmbito de um acordo de cessar-fogo que a colocaria sob o controle conjunto das forças em guerra - aponta um documento consultado pela AFP.

O enviado especial da ONU para o Iêmen, o britânico Martin Griffiths, fez duas propostas escritas neste sentido aos atores em conflito - as forças pró-governamentais apoiadas pela coalizão liderada pela Arábia Saudita e o rebeldes huthis xiitas, que contam com apoio do Irã.

"Tenho a esperança de que possamos chegar a um acordo a favor de uma desescalada dos combates nesses dois lugares. Espero que este seja o caso. Mas ainda não conseguimos", afirmou Griffiths em coletiva de imprensa em Rimbo, no norte de Estocolmo.

Os possíveis acordos defendidos pelo mediador da ONU preveem um cessar-fogo nas duas cidades.

Segundo documento consultado pela AFP, Griffiths também propôs que a coalizão pró-governo liderada pela Arábia Saudita cesse suas operações militares contra Hodeida em troca de uma retirada dos combatentes rebeldes huthis da cidade.

Hodeida, por onde entra a maior parte da ajuda humanitária ao Iêmen, seria então colocada sob a tutela do governo e dos rebeldes, com a supervisão das Nações Unidas. A proposta não prevê a mobilização de uma missão de manutenção de paz.

"A proposta do enviado especial está sendo estudada. A resposta não tradará, se Deus quiser", afirmou um membro da delegação do governo, Hadi Haig.

De acordo com um delegado huthi, Salim al-Mughaless, os rebeldes só podem considerar a possibilidade de deixar Hodeida como parte de uma solução política global para o conflito que fez 10.000 mortos desde 2014.

"A discussão é longa e está em curso", afirmou à AFP.

O destino de Hodeida está no centro das negociações que estão sendo realizadas na Suécia sob os auspícios do mediador da ONU, o britânico Martin Griffiths.

A situação humanitária se deteriorou recentemente, devido à insegurança em Hodeida, por cujo porto no Mar Vermelho transitam 70% das importações iemenitas, segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA).

As forças pró-governo tentam, há meses, retomar esta cidade dos rebeldes, apoiados pelo Irã.

O governo do Iêmen exige em vão a retirada completa dos rebeldes do porto e os acusa de usá-lo para importar armas.

Segundo um funcionário da ONU, Hodeida é a questão mais "difícil" na agenda de consultas na Suécia, que não são oficialmente negociações de paz.

Elas devem permitir que os atores conversem entre si depois de quatro anos de conflito que deixou até 20 milhões de pessoas à beira da fome.

Um delegado huthi, Salim Al Moughaless, e um membro da delegação governamental, Ahmed Ghaleb, apertaram as mãos nesta segunda-feira diante de jornalistas iemenistas e um fotógrafo que imortalizou a cena - praticamente inédita.

"Nunca tinha visto isso antes", garantiu à AFP uma das jornalistas que presenciaram a cena.

Segundo uma fonte da ONU, os dois lados expressaram sua disposição de se encontrar novamente nos próximos meses.

"Se abandonarmos essas consultas com avanços - progressos na construção de confiança e estabelecimento de um quadro - poderemos ter uma nova rodada de conversas" nos próximos meses, confirmou no domingo o chefe da delegação rebelde, Mohammed Abdelsalam.

Todas as tentativas de acabar com a guerra de quatro anos falharam até agora, enquanto a situação humanitária no Iêmen, a pior da ONU no mundo, está se deteriorando dia a dia.